31 maio, 2010

Viver...



(Image by Darla Winn)

temos, todos que vivemos,
uma vida que é vivida
e outra vida que é pensada,
e a única vida que temos
é esta que é dividida
entre a verdadeira e a errada.

Fernando Pessoa

Obs.: Tá vendo porque tenho medo da minha imaginação?

30 maio, 2010

Coisas que nos dão prazer...



(Show Orquestra Arte Viva, Nando Reis, Paula Toller e Roberta Sá, Ibirapuera - SP)


Não sei se pra todo mundo, mas imagino que pra muita gente, o dia a dia se torna uma loucura e acabamos deixando de fazer coisas que nos dão prazer. A pior parte poderia estar aí: em não se fazer coisas que nos dão prazer. Mas existe uma parte ainda pior do que essa... Que é aos poucos irmos esquecendo que coisas são essas...

Do que gostamos, o que queremos, pelo que nos mataríamos, por que coisa enfrentaríamos chuva, sol, filas, que momentos valem cada segundo... Enfim, o que gostamos de fato de fazer. Me dei conta que tenho a sorte de ter pessoas muito especiais! Lembrei de conversas especiais, risadas especiais, silêncios especiais.

Quando estava sentada na grama, praticamente torrando no sol, naquele parque lindo olhando/sentindo/ouvindo o show... Me dei conta do valor que esses momentos possuem pra mim. Sabe quando a gente arrepia, para de raciocinar, canta sem perceber, pensa sem querer... Enfim, de alguma maneira maluca a gente se sente bem!

Fiquei pensando que são esses momentos que fazem grande parte do caminho valer a pena. Tem a parte chata/ruim/sem graça sim, não esqueci dela (nem tem como né?) mas, quando estava voltando, ouvindo "Mosaico Abstrato", a música nem fala disso na verdade (eu acho...), mas fiquei pensando que a nossa vida é feita também disso. Desses momentos malucos, que vão se juntando num mosaico abstrato e vão dando um sentido especial pra essa correria... que é a nossa vida de cada dia.

Trilha sonora do retorno pra Campinas...

Mosaico Abstrato
Nando Reis

Todo sonho é feito de estilhaços
Do que o olho crê
Que a imagem
Faz no espaço,
E o tempo encontra
No ar que passa
Invisível,
Peso e cor

Todo encontro é o jeito do acaso
Achar no sonho
Uma miragem
Onde o oásis
Água inventa
O mar do nada é
Impossível
Erro e dor

E o que era longe hoje só é aqui
Tem rosto
E nome
De um jeito tão certo que só cabe mesmo em mim
Como o beijo e abraço
No tempo que passa
Lento e à jato

No gesto que toca
A gente na alma
No modo, dois jeitos
E diferentes
É que somos
Iguais

Livros lidos
Discos preferidos
Filmes vistos
Sempre
Um
Sinal

Indo e vindo
vivo ouvindo
O instinto
Mesmo quando
Não tava entendendo nada
Mesmo quando não entendo nada
Agora eu sei que não entendo mais de nada
Só o que diz
O lábio no beijo
No sopro
A paixão

29 maio, 2010

Sou...



(Martha Medeiros)

 Quem sou eu?

Quem sou eu? Quando não temos nada de prático nos atazanando a vida, a preocupação passa a ser existencial. Pouco importa de onde viemos e para onde vamos, mas quem somos é crucial descobrir.

A gente é o que a gente gosta. A gente é nossa comida preferida, os filmes que a gente curte, os amigos que escolhemos, as roupas que a gente veste, a estação do ano preferida, nosso esporte, as cidades que nos encantam. Você não está fazendo nada agora? Eu idem. Vamos listar quem a gente é: você daí e eu daqui.

Eu sou outono, disparado. E ligeiramente primavera. Estações transitórias.

Sou Woody Allen. Sou Lenny Kravitz. Sou Marilia Gabriela. Sou Nelson Motta. Sou Nick Hornby. Sou Ivan Lessa. Sou Saramago.

Sou pães, queijos e vinhos, os três alimentos que eu levaria para uma ilha deserta, mas não sou ilha deserta: sou metrópole.

Sou bala azedinha. Sou coca-cola. Sou salada caprese. Sou camarão à baiana. Sou filé com fritas. Sou morango com sorvete de creme. Sou linguado com molho de limão. Sou cachorro-quente só com mostarda e queijo ralado. Do churrasco, sou o pão com alho.

Sou livros. Discos. Dicionários. Sou guias de viagem. Revistas. Sou mapas. Sou Internet. Já fui muito tevê, hoje só um pouco GNT. Rádio. Rock. Lounge. Cinema. Cinema. Cinema. Teatro.

Sou azul. Sou colorada. Sou cabelo liso. Sou jeans. Sou balaio de saldos. Sou ventilador de teto. Sou avião. Sou jeep. Sou bicicleta. Sou à pé.

Você está fazendo sua lista? Tô esperando.

Sou tapetes e panos. Sou abajur. Sou banho tinindo. Hidratantes. Não sou musculação, mas finjo que sou três vezes por semana. Sou mar. Não sou areia. Sou Londres. Rio. Porto Alegre.

Sou mais cama que mesa, mais dia que noite, mais flor que fruta, mais salgado que doce, mais música que silêncio, mais pizza que banquete, mais champanhe que caipirinha. Sou esmalte fraquinho. Sou cara lavada. Sou Gisele. Sou delírio. Sou eu mesma.

Agora é sua vez.

Martha Medeiros



(Eu... ou seria eus?)


Sou...

O pior é que mesmo quando eu tenho duzentas coisas práticas atazanando a minha vida ainda consigo ficar fazendo essa pergunta besta... quem sou eu? E se a gente é o que a gente gosta... tenho até medo! Eita gosto mais variado o meu!

Sou mais estrada que porto seguro, sou mais perguntas que respostas, sou infinitamente mais dúvidas que certezas. Sou mais correria que calma, sou 220 volts. Sou risada na hora errada (nas outras horas também). Sou choro escondido. Sou pensamentos sem controle (eita imagnação que não para). Não sou vidente, mas tento todo o tempo.

Sou mais frio que calor, sou mais lua que sol. Sou garoa, chuva e tempestade. Sou perfume leve. Sou cabelos curtos cortados todo mês. Sou sapatos baixos (salto só por uma boa razão). Sou saia. Sou calça jeans. Sou pijama. Sou banho quente e demorado. Sou sabonete de hortelã e gengibre.

Sou quarto bagunçado. Sou vontade de dormir só mais cinco minutinhos (viva o "soneca" do celular). Sou mais pressa que paciência, sou mais palavra que silêncio.

Sou doce com salgado. Sou mais sobremesa que prato principal. Sou pão na chapa com suco de laranja. Sou massa com molho branco. Sou brigadeiro de morango. Sou milk shake de ovomaltine. Sou água de coco.

Sou imagem. Sou fotografia. Sou música alta, baixa, lenta, rápida, pra cantar, pra imaginar e pra lembrar. Sou canções com vocal feminino. Sou internet. Sou livros de cabeceira. Sou filmes. Sou pastas de música no computador. Sou papelaria. Sou post it. Sou canetas. Sou cadernos. Sou show do Nando Reis amanhã!

Sou... assim!

27 maio, 2010

Vamos andando...



(Imagem by Philip and Karen Smith)


"Vamos andando solidamente... E, de repente vemos um pôr-de-sol... E estamos perdidos de novo."
Jorge Luis Borges

E como gostamos de nos perder né?

Pôr-do-sol...
Sons...
Cheiros...
Sabores...
Vozes...
Lugares...
Pessoas...
Lembranças...
Sonhos...
Realidades...
Vontades...

26 maio, 2010

Porque sim!?



(Image by Cheryl Zibisky)

Hoje tive um dia pesado... e uma noite também, apesar da lua cheia linda que estava lá fora... Fiquei pensando nas pirações da aula passada. Digamos que eu sobreviveria bem sem ouvir numa aula cujo tema era "tragégia" que a única certeza que temos é o fim... OK! Não vou entrar no mérito da questão. Mas fiquei pensando no quanto a gente vai se limitando, se podando... de tal maneira que acaba se tornando natural. 

A gente já não se arrisca mais porque de alguma maneira mágica (e sem fundamento quase algum) sabemos que vai dar errado. Não temos muitas vezes nem  a honestidade de assumir a metade das chances de dar certo! Temos respostas prontas para tudo! Pra que fazer isso ou fazer aquilo, pra que ir àquele lugar, nem vai estar tão legal assim... pra que acordar cedo (embora dormir seja uma delícia), pra que se inscrever naquele curso, talvez nem seja tão bom, pra que fazer aquela viagem, nossa é muito longe, pra que ir naquele barzinho bacana onde os seus amigos vão estar, já está tarde, pra que ir ver aquele filme no cinema, logo estará na locadora, pra que convidar aquele cara bacana pra sair? 

É curioso como buscamos respostas que talvez nem existam e que talvez possam ser somente um porque sim! Porque queremos! Porque estamos com vontade! Porque merecemos! Porque só queremos ver no que vai dar, afinal do chão não passamos certo? Quase desisti de escrever algumas linhas atrás porque os porquês me confundem... com acento, sem acento, separado, junto... decidi que vou escrever do jeito que quiser porque o blog é meu certo?

Sei que estamos apenas na metade do ano... mas, lembrei dessa crônica e fiquei pensando que talvez (50% de chance, OK?) quanto mais cedo rolar um, algum, alguns "porque sim" talvez conquistemos coisas novas, nos surpreenderemos com o esperado e com o inesperado, nos decepcionaremos também, enfim... viveremos com mais intensidade... até porque... porque sim pode ser uma ótima resposta! Seja ele junto, separado, com ou sem acento...

(Image by Deborah Harrison)


Porque sim!

Você tem uma razão muito forte para, neste final de ano, reatar com aquela amiga a quem magoou, para passar o dia inteiro deitado na cama pensando na vida, para interromper a dieta e cair de boca no seu doce preferido. A razão inquestionável e inatacável é: porque sim.

Você passou o ano inteiro fazendo coisas porque não. Você foi a festas barulhentas e lotadas porque não queria ficar em casa sozinha. Você gastou mais dinheiro do que podia porque não contava que iria ficar sem emprego. Você se frustrou porque não conseguiu a bolsa de estudos na Inglaterra. Você foi ignorada pelo carinha que estava a fim porque não ouviram suas preces. Ainda assim, você passou o ano sorridente e bem-humorada, porque não esperavam outra coisa de você.

Agora chegou a época do ano em que você não precisa mais se preocupar em dar explicação. Por que? Porque sim. Acabei de determinar que o final do ano é o momento ideal para expurgar as culpas e para fazer tudo o que lhe passar pela cabeça, sem se importar se é politicamente correto ou incorreto, se vai dar certo ou não. É a hora de ouvir os seus instintos e atender às suas vontades, hora de se permitir uma certa irresponsabilidade, tomar atitudes desamparada pela razão. Por que? Você sabe porquê.

Vou comprar um vestido vermelho, porque sempre quis ter um. Vou alugar uma moto por um dia, porque nunca tive uma moto. Vou ligar para o Gustavo e dizer que fui apaixonada por ele, porque ele nunca soube disso. Vou ler toda a obra de Shakespeare, porque me deu na telha. Vou pegar um ônibus e só descer na última parada, porque me deu vontade. Vou comprar o disco de uma banda que nunca ouvi falar, sem escutar na loja. Porque sim.

Um exercício de desprendimento: desatar os nós que enlaçam atos e motivos. Fazer as coisas por impulso. Por que? Porque às vezes é bom a gente mostrar pra si mesmo quem é que manda aqui.

Martha Medeiros

25 maio, 2010

Sentimentos Indecisos



(Image by Robin Cerutti)

Antes de colocar essa crônica da Martha que eu gosto muito, só queria acrescentar que meus sentimentos além de indecisos andam meio malucos... Se é que eles não são de fato meio malucos e eu só percebi agora... talvez eles estejam de fato alterados... Depois de uma aula cujo tema foi "a tragédia"... prefiro tecer comentários em outro momento... Tudo bem que adoro cinema... mas de tragédia chega algumas inevitáveis do dia a dia, certo?


Sentimentos indecisos

O sentimento é um indeciso. Nunca está 100% convicto. Por uma amiga: o sentimento inclina-se para o bem, o sentimento é de afeto pleno, mas surpreendemo-nos ouvindo suas aflições e sentindo com isso uma alegria maligna. Que espécie de amizade é essa, verdadeiramente amorosa, porém suscetível a uma humanidade que nos envergonha e dói?

O sentimento pelos pais, representantes de deus em nossa casa, os nossos criadores: dependemos de seus olhares e de suas palavras, queremos deles aceitação – em vão. Basta estarem de desacordo com a nossa verdade para repudiarmos seus valores arcaicos, e então alternadamente detestamos e amamos os pais, absorvemos com a mesma intensidade o sufocamento familiar e a divindade familiar, os queremos por perto e os queremos apartados de nós, e isso é amor enorme e confuso.

E assim sucede com pessoas várias. Colegas, compadres e vizinhos, seres que nos agradam e nos repulsam, que são admirados e desprezados, que provocam em nós sentimentos dúbios em horas alternadas, porque o sentimento é assim, histérico. Você ama o caráter de alguém e lhe odeia o dente amarelado, você admira a inteligência do outro, mas não entende como pode ser tão rude, você quer seu marido sempre por perto, e às vezes longe, e ele quer a esposa sempre ao lado, mas quieta.

O sentimento não suporta tudo. Mas é deste tudo que é feito um sentimento: de choques e prazeres, de desejos e solidão. O sentimento fatiado não existe. Lascas só de sentimentos bons: não. Vem sempre junto a parte estragada.

De nacos frescos e contaminados é feito todo sentimento. O nosso por nós mesmos, maior exemplo. Gostamos de nós, mas queríamos mudar. Temos orgulho do nosso caminho até aqui, e tantos arrependimentos. Gostamos da nossa boca, mas não dos olhos, gostamos do queixo, mas não dos cabelos, gostamos do rosto inteiro, mas precisamos emagrecer, e essa mesma satisfação e insatisfação ocorre por dentro: queríamos mais fígado, menos coração mole, mais estômago, menos dores de consciência, mais alma, mais sono, mais paciência.

Um sentimento decidido? Não há. Paixão ou ódio, estão sempre divididos.

Martha Medeiros


Obs.: Com todo respeito, gostaria só de acrescentar que hoje eu queria mais edredom e cama em dia frio, nos de calor também, e de noite também... mais leite quente com muito ovomaltine (odeio leite, mas com ovomaltine, muita coisa se resolve!), pode ser um milk shake também, sem problemas, mais doces gostosos, menos ônibus lotado, menos correria, mais música gostosa para ouvir, mais sofá e almofadas, mais filmes, mais cinema na verdade, mais rede pra deitar, mais shows bacanas pra curtir, mais risadas com as amigas (precisamos combinar algo!?), mais dias de chuva gostosos pra ficar deitada ouvindo a chuva no vidro da janela (sem ter que nadar na rua de preferência,  até porque não aprendi ainda)  menos dores de cabeça, menos cansaço, menos mau humor (às vezes até é divertido, mas só às vezes) e mais coragem pra correr atrás de tudo isso... e só pra reforçar... MUITO MAIS PACIÊNCIA!

23 maio, 2010



(Image by Jupiterimages)

a mais carinhosa também é a mais bruta,
a mais inteligente é ao mesmo tempo a mais sensível,
a mais bonita também é a mais emburrada,
a mais esperta é ao mesmo tempo a mais mundo da lua,
a mais bem-humorada também é a mais chorona,
a mais falante é ao mesmo tempo a mais secreta,
a mais velha é ao mesmo tempo a mais moleca,
a mais moça também é a mais madura,
uma não vive sem a outra e eu não vivo sem as duas.

Martha Medeiros

Obs.: Antes eu fosse só duas... quantas será que somos? Passeio interessante pode ser esse de descobrir...

Há “pés esquerdos” que vêm para o bem...


(Image by Imagezoo)

Esses dias eu estava meio brava com o mundo (na verdade alguns dias talvez) e com medo de ficar amarga sabe. Azeda mesmo. Um limão, pior, uma limonada inteira e sem ser suíça. Sabe aqueles dias em que a gente levanta com dois pés esquerdos? Um frio dos infernos pra sair da cama, você cai mais uma vez na armadilha “soneca” do alarme do seu celular, o chuveiro queima = banho gelado reclamando do mundo, você derruba o leite na blusa limpinha que acabou de colocar, não encontra a sua carteira (que pela mania de arrumação) tava arrumando ontem a noite antes de pegar no sono... Enfim, um dia desses...

Então, ao invés de ficar pirando em ficar azeda ou amarga resolvi tentar entender um pouquinho que sabor é esse que estou vivendo/sentindo agora. Pôxa, a minha paciência não é mais a mesma. É fato que continuo ligada no 220, ansiosa, apressada, curiosa. Os gostos mudaram um pouquinho (grande parte da adolescência parece que permanece, pelo menos no que diz respeito a adorar séries de TV, comédias românticas tontas e a mania de imaginar coisas), alguns sonhos mudaram, chegaram, surpreenderam... Mas foi importante perceber que a possibilidade de sonhar continua aqui. Fim de faculdade, começo de mestrado (meio na verdade, ai meu Deus!), trabalhando na minha área, aprendendo pra caramba, penando pra caramba também, namorando um curso de fotografia, outro de cinema, outro de roteiro pra documentário, não efetivando nenhum por enquanto (mas o namoro tá bom). Acho que nunca tive vontade de fazer tantas coisas! Dança, fotografia, teatro, voltar pro inglês, retomar o espanhol, talvez o francês, natação (é, acho que preciso aprender nadar nessa vida ainda, já que andar de bicicleta resolvi deixar pra lá), tirar carta, comprar um carro, um apartamento, viajar, até em ter um hamster tenho pensado...

Engraçado que comecei a pensar em mim buscando “o que havia se modificado” e acabei encontrando algumas permanências e talvez algumas vontades que sempre estiveram aqui e eu não dei muita bola. Acho que as pessoas piram em algumas épocas da vida, e talvez eu esteja em uma dessas épocas. Vai ver fazer um blog do nada tenha haver com isso (talvez a terapia não esteja dando conta! Brincadeira, a Flávia manda muito bem!). Nossa, me senti a maluca agora. Mas tem sido uma piração boa. É estranho se sentir tão plena, sabe do que eu estou falando? Se sentir bem de verdade com você, não no país da maravilhas entende? Mas bem... levando a vida, estudando, trabalhando (tentando pelo menos), feliz com o esmalte das unhas, o corte de cabelo, os gostos, as vontades (as identificáveis conscientemente pelo menos)... “Se encontrar”, se olhar depois de algum tempo passeando entre o que sou e como eu gostaria de ser...

Acho que é aí que a crise surge... O que vem pela frente? É estranho como conquistamos coisas... E de repente você deita na cama pra ler, ouvir musica, de pijama listrado, cobertor verde de bolinhas amarelas, e sente uma sensação (nossa, isso foi tipo descer pra baixo, anexar junto, mas enfim) a sensação mais confusa do planeta: uma satisfação insatisfeita. Pode? Pode! Não sei, mas acho que se você não se sentiu assim ainda, acho que esse momento chega uma hora dessas.

O medo de ficar azeda... sabe que até passou, a possibilidade de me sentir humanamente azeda às vezes... foi compreendida. Afinal, nunca se sabe quando uma limonada azeda pode virar uma limonada suíça... E assim que eu entender o que significa tudo isso divido por aqui... por enquanto... um brinde de limonada às possibilidades!

Obs.: Me matriculei no curso de roteiro para documentários... vamos ver o que rola!

18 maio, 2010

Explosões



 (Image by Ulf Huett Nilsson)

"Não tenho nada a ver com explosões”, diz um verso de Sylvia Plath. Eu li como se tivesse sido escrito por mim. Também não faço muito barulho, ainda que seja no silêncio que nos arrebentamos. Tampouco tenho a ver com o espaço sideral, com galáxias ou mesmo com estrelas. Preciso estar firmemente pousada sobre algo — ou alguém. Abraços me seguram. E eu me agarro. Tenho medo da falta de gravidade: solta demais me perco, não vôo senão em sonhos.

Não tenho nada a ver com o mato, com o meio da selva, com raízes que brotam do chão e me fazem tropeçar, cair com o rosto sobre folhas e gravetos feito uma fugitiva dos contos de fada, a saia rasgando pelo caminho, a sensação de ser perseguida. Não tenho nada a ver com cipós, troncos, ruídos que não sei de onde vêm e o que me dizem.

Não me sinto à vontade onde o sol tem dificuldade de entrar. Prefiro praia, campo aberto, horizonte, espaço pra correr em linha reta. Ou para permanecer sem susto. Não tenho nada a ver com boate, com o som alto impedindo a voz, com a sensualidade comprada em shopping, com o ajuntamento que é pura distância, as horas mortas desgastando o rosto, a falsa alegria dos ausentes de si mesmos.

Não tenho nada a ver com o que é dos outros, sejam roupas, gostos, opiniões ou irmãos, não me escalo para histórias que não são minhas, não me envolvo com o que não me envolve, não tomo emprestado nem me empresto. Se é caso sério eu me dôo, se é bobagem eu me abstenho, tenho vida própria e suficiente pra lidar, sobra pouco de mim para intromissões no que me é ainda mais estranho do que eu mesma.

Não tenho nada a ver com cenas de comerciais de TV, sou um filme sueco, uma comédia britânica, um erro de adaptação, um personagem que esquece a fala, nada possuo de floral ou carnaval, não aprendi a ser festiva, sou apenas fácil. Não tenho nada a ver com igrejas, rezas e penitências, são raros os padres com firmeza no tom, é sempre uma fragilidade oral, um pedido de desculpas em nome de todos, frases que só parecem ter vogais, nosso sentimento de culpa recolhido como um dízimo.

Nada tenho a ver com não gostar de mim. Me aceito impura, me gosto com pecados, e há muito me perdoei. Não tenho nada a ver com galáxia, mato, boate, a vida dos outros, os comerciais de TV e igrejas. Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. Meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto.

Minto, tenho tudo a ver com explosões.

Martha Medeiros

17 maio, 2010

Pijamas, medo e frio...



(Imagem by Rolf Sjogren)

Atualmente (difícil precisar atualmente, deixa pra lá) as únicas coisas capazes de me deixar de bom humor são: pijamas, sofá e edredom. Ok que não é nada mal né? Mas hoje acabei comprando três pijamas. Por alguma razão maluca adoro pijamas! Mas, o que eu vou fazer com tantos pijamas? Tudo bem que acabo levando o cachorro passear praticamente dormindo e logo cedo de pijama ainda, afinal os únicos "quase" acordados no mundo somos nós dois praticamente, então... Vamos combinar que esse frio é um convite perfeito pra não se sair de casa e para se comprar pijamas! Engraçado como tem momentos da vida (ok que o frio colabora) em que a única coisa que a gente queria é ficar dentro de casa, num casulo, com a gente mesmo. Duas hipóteses: você tá bem e quer muito descansar e curtir o frio... ou as coisas não estão tão boas... e você mal sabe que ficar sozinha com você mesma pode ajudar a complicar um pouquinho mais. Nem tinha percebido o que ficar só comigo pode me trazer, mostrar, provocar, enfim...

Já sentiu medo de não conseguir viver tudo o que você poderia? Ok, como se você soubesse tudo o que poderia. Mas, medo mais estranho e contraditório esse! Parece que de repente as coisas começam a “acontecer” ou seria “não acontecer” de maneira tão rápida que em algum momento você se perdeu, só não consegue enxergar onde... e várias coisas acontecendo... e não acontecendo e você imaginando o que queria que acontecesse e o que não vai mais acontecer... é, achando que tem o dom divino de prever o futuro, ou alguma bola de cristal escondida no bolso. Que não seja o dom, mas que mania maluca é essa que você tem de imaginar o futuro? E o pior, passar raspando quase sempre...

Pode parecer um misto de desanimo, com saco cheio e falta de imaginação... Mas na verdade é só falta de uma perspectiva mais interessante no momento, literalmente. Não que ela não exista, mas sabe como é, ilusões de ótica fazem parte do percurso. E lá chegamos novamente a um querer não se sabe o que, mas um medo certeiro de não conseguir isso que não se sabe... Tudo bem que ouvir "As Melhores Coisas" do Arnaldo Antunes me fez querer voltar pros 16 anos... Quem diria que chorar na escada do colégio por alguém que pensava não poder viver sem e que hoje nem me lembro mais pudesse parecer tão interessante agora? Escola, amigos, uma série de coisas pra querer (ainda que desde lá não conseguisse identificar muito bem). Tudo bem, tenho uma série de coisas pra querer ainda! E quero!

Bom, lá vamos nós, ilusões de ótica e frio a parte a vida continua... Cheia de dúvidas, das certezas mais incertas, de expectativas confusas... Fico me perguntando o que está nesse momento pra mim entre as dez ou mais de mil melhores coisas da vida... Quando começar a lista eu conto...

Mas... por enquanto, prefiro ficar de pijama e de pernas pro ar... E a previsão é que fique ainda mais frio...

(Image by AAGAMIA)


16 maio, 2010

Alice? Amélie?



(Alice no País das Maravilhas - 2010)


(O Fabuloso Destino de Amélie Poulain - 2001)

Acho que a minha cabeça vai rodar até nos meus sonhos hoje! Acabei de assistir Alice... Depois de 5 minutos enxergando tudo turvo e já me achando a criatura mais azarada do planeta porque aquela porcaria de 3D parecia não funcionar comigo, percebi que estava com o óculos de sol... e não com o 3D, e fez-se a imagem! Amém, pelo menos era o que eu achava.

Bom, nunca li Alice, já ouvi a história, já conversei a respeito, tenho uma amiga que adora, mas essa foi a minha primeira aproximação. Engraçado que por alguma razão maluca o filme me lembrava o tempo todo “O fabuloso destino de Amélie Poulain”. Curioso que são dois filmes bem diferentes, com duas personagens especiais. Qual a diferença (ou semelhança, já não me lembro bem) entre um corvo e uma escrivaninha? Não sei, e nem sei se quero saber, mas fiquei pensando em o que uniu esses dois filmes na minha cabeça durante aquela piração de movimento e imagens. Acho que uma primeira aproximação eu tenha feito com a própria fotografia do filme, viva! Completamente diferentes, mas ambos os filmes possuem uma imagem muito viva! E curioso que a Alice cai num buraco maluco, encontra pessoas malucas e acaba brigando pra resolver o problema delas (ok, talvez também resolvesse o dela naquele momento: voltar pra casa), e vejo Amélie fazendo algo parecido... Mas o que o buraco na parede esconde e revela é uma caixinha de lembranças, que quando devolvida para seu dono faz Amélie resolver tentar mudar a vida de outras pessoas... um atalho para resolver a dela? Ok, até funciona de alguma maneira torta também, mas não sei. Acredito que não.

E eu? Tenho até medo de pensar o que o mundo reserva! Já vi animais falantes, pelo amor de Deus um coelho acelerado não! Um despertador no celular já me basta. Lagartas azuis, rainhas, pessoas comuns buscando nem sabem o que direito... Talvez esse seja o grande enredo de todo mundo: coisas malucas e um “não saber o que se procura”. Tenho pensando muito no que quero, nas coisas, maneiras, vontades, sonhos, enfim, no que gostaria que compusesse o meu enredo... E de fato não é uma pergunta fácil. Talvez porque saber exatamente o que se quer seja grande parte do caminho para se conseguir... e depois? Curioso como “o querer” às vezes parece muito mais seguro que “o conseguir”. Mais curioso ainda é admitir isso. Estava ouvindo uma música esses dias I dare to move... Eu te desafio a se mexer... (tenho mania de procurar as traduções das músicas que gosto). E acho que é um pouco do que esses filmes me provocaram... Como se fosse simples... A música termina assim:

Eu te desafio a se mexer
Como se o 'hoje' nunca tivesse acontecido
O 'hoje' nunca aconteceu antes

E nos provoca a pensar What happens next? O que acontece depois?

Viver pra saber é o que resta... e é claro, no meu caso pirar em 547 possibilidades antes do hoje conseguir chegar...

12 maio, 2010

Ser capaz



(Image by Lorenz and Avelar)


A escritora Hilda Hilst está tendo sua obra reeditada pela editora Globo desde o ano passado, e o primeiro livro a ser relançado foi A obscena senhora D. No texto de apresentação, o organizador das reedições explica por que considerou esse o livro certo para iniciar as publicações: "É uma pancada justa, certeira, para apresentá-la sem meias medidas aos leitores potenciais, capazes dela".

Capazes dela. Capazes de um texto que causa desconforto e desconcerto. Capazes de um texto que execra o bom mocismo. Capazes de absorver uma literatura em nenhum aspecto fácil. Os capazes de Hilda Hilst são capazes de Anaïs Nin, que são capazes de Rimbaud, que são capazes de absorver o delírio, a inquietação e a profundidade de nossas incertezas, portanto incapazes de um Sidney Sheldon.

Não é para falar de livros esta crônica. É para falar de capacidade. Do quanto somos ou não capazes de enfrentar nossas limitações, capazes de noites em claro, capazes de questionar nossa própria sanidade. Do quanto somos incapazes para fórmulas prontas, incapazes de concordar cegamente com o que parece fazer sentido, incapazes de dizer amém.

Do que você é capaz?

Sou capaz de quase tudo, talvez até de matar e morrer se a dor for insuportável. Sou capaz para o ilegal, o imoral e o insano, só não me sinto capaz para o injusto. Sou capaz de coisas que jamais farei, como me atirar de para-quedas de um avião, beber óleo de fígado de bacalhau e injetar silicone nos lábios, apenas nunca farei porque não há o que me motive.

Sou capaz para o segredo, sou capaz para o inferno, sou capaz para o silêncio, sou capaz para o irrecuperável, sou capaz para o fracasso, sou capaz para o medo, sou capaz para o bizarro. Minha incapacidade é para a frescura, para a fofoca, para a vaidade, para a seriedade que conferem ao que é irrelevante, quase tudo que está à vista.

Sou capaz para o que não conheço e torno-me incapaz para o que conheço bem demais. Sou pouco capaz para a matemática, para a física, para a culinária, para a religião. Talvez seja capaz para a mediunidade, mas nunca tentei. Sou capaz para a loucura, mas costumo frear a tempo. E, quando preciso de solidão, sou capaz de me declarar inábil para tudo o mais, na esperança secreta de ser deixada em paz.

Martha Medeiros


Do que você é capaz?


Ontem estava chateada com o planeta, nem vou falar com o que exatamente porque não sei, por isso melhor englobar todo o planeta (sou controladora, prefiro pecar pelo excesso). Tenho alguns livros da Martha que ficam ao lado da minha cama, e geralmente leio alguma coisa antes de dormir, nos momentos de raiva, e quando me sinto bem também... E acabei lendo esse texto hoje... Provocada pelo título: “Ser capaz”. Acho que “do que somos capazes” é uma pergunta que nos fazemos demais (de menos às vezes) durante a vida.


Tudo bem que do alto dos meus 26 anos, não é exatamente “durante a vida”, mas digamos que se trate de uma experiência significativa. Na realidade o que me intrigou é que a cada dia encontramos novas respostas para essa pergunta... E em compensação continuamos à fazê-la, mais e mais. Fiquei pensando em quantas coisas deixamos de fazer por conta justamente de questionar a nossa capacidade. E talvez em quantas outras nos encorajamos justamente por nos sentirmos capazes... E o quanto esse pergunta chata, confusa, provocadora, encorajadora... nos movimenta.


Continuo sem conseguir pontuar exatamente do que sou capaz (ainda que a Martha dê conta de algumas coisas muito bem...) sou capaz de insistir quando acredito (é, teimosia pode ser uma virtude), de brigar pelo que penso, de deixar o medo falar mais alto às vezes... Sou capaz de sobreviver a situações que jurava que me tirariam o eixo pra sempre (que o diga minha terapeuta), sou capaz também de desistir das coisas mais hipotéticas do planeta, só por pensar que não era capaz...  Entretanto, para o equilíbrio do planeta (mais especificamente do meu equilíbrio e por sua vez dos outros na minha órbita) sou capaz de ser capaz quando não acreditava que seria, e de sobreviver quando não o sou...


Sou capaz de convencer as pessoas de algumas maluquices (na maioria das vezes boas), sou capaz para a dor, para rir de coisas boas e ruins, sou capaz de pensar em 234 mil hipóteses antes de tomar uma decisão, capaz de imaginar as coisas mais piradas do planeta (tá vendo como sou exagerada?), sou capaz para o exagero também, e é claro capaz de parar às vezes antes desse exagero se concretizar. Mas sou incapaz para a espera, para a dúvida, para o que me provoca medo.  


Queria muito dizer que não sou capaz de ir contra o que penso, o que quero e o que sinto, mas parece que capacidade mesmo eu tenho para ser humana... e assim, às vezes ser incapaz de fazer o que eu mais queria. Entretanto, gosto de pensar na possibilidade de a qualquer hora dessas fazer coisas que nunca pensei que seria capaz...

11 maio, 2010

Quando dá tudo errado...



(Image by Joy sale)

Quando dá tudo errado
visto uma camiseta e faço um rabo de cavalo
quando dá tudo errado
como pouco e tomo muita água
quando dá tudo errado
me masturbo e durmo até mais tarde
quando dá tudo errado
troco os lençóis
passo perfume francês
faço as unhas das mãos e dos pés
e dispenso penitência
já que não deu tudo certo
coloco um disco que gosto
escolho uns poemas que toquem
e os releio deitada no sofá
tudo errado que dá
é consciência.

Martha Medeiros


Tem dias que dá tudo errado... e às vezes nem tão errado assim, mas a sensação é essa... um cansaço meio sem fim, nem começo, nem lugar certo... ando pensando que só o que queremos é mesmo algum equilíbrio em meio ao caos... e que talvez o caos seja mesmo a regra e o equilíbrio... estado de exceção...

09 maio, 2010

Deixar rolar...



(Image by Jena Ardell)

Li uma entrevista com o escritor e jornalista português Vasco Valente, onde ele afirma que passamos a vida tentando conter a tendência para a desordem. Se ficássemos passivos diante da vida, sem mexer um dedo para nada, um belo dia acordaríamos falidos, com a energia elétrica cortada e um monte de gente magoada a nossa volta. Conclui ele: "O que cada um de nós tenta fazer, cada um à sua maneira, é tentar conter o descalabro".

A visão dele é meio apocalíptica - desordem, descalabro! -, mas, relativizando o exagero, é bem assim mesmo: passamos a vida tentando organizar o caos. Trabalhamos para ter dinheiro, respeitamos as leis, usamos o telefone para manter laços com a família e procuramos amar uma única pessoa para sossegar as aflições do coração, sempre tão inquieto. E mesmo fazendo tudo certo, e mesmo correndo contra o relógio e contribuindo para o bem-estar geral, às vezes dá tudo errado. É quando surge alguém não sei de onde, percebe o nosso stress e dá aquele conselho-curinga que serve para todas as ocasiões: deixa rolar.

Sempre que eu deixei rolar, não aconteceu nada. Nada de positivo ou negativo. Nada. De vez em quando eu até deixo rolar, mas só para obter um breve momento de descanso em que parece que saí de férias da vida. É uma auto-hipnose: estou dormindo, não estou aqui, não estou vendo coisa alguma. Quando a desordem e o descalabro voltam a ameaçar, eu conto um, dois, três, estalo os dedos e a engranagem volta a funcionar de novo.

Deixar rolar é um conselho que não consigo seguir por mais de uma tarde. Tenho esta mania estúpida de querer participar de tudo o que me acontece. Se eu me dei bem, a responsabilidade é minha, e se me dei mal, é minha também. Não entrego nada a Deus. Não uso nem serviço de motoboy. Eu mesma cobro, eu mesma pago. Delego pouco, e apenas pra gente em quem confio às cegas. Nunca pra este tal de destino, que não conheço.

Só entro em estado de passividade quando não depende mais de mim. E só deixo rolar aquilo que não me interessa mais. O problema é que tudo me interessa.

Martha Medeiros

Obs.: Como alguém pode descrever a gente com tanta perfeição?

08 maio, 2010

Amizade...



(Image by David Trood)

Hoje vi uma frase no MSN da Laris que me fez pensar... “Tenho amigos tão bonitos. Ninguém suspeita, mas sou uma pessoa muito rica”. E caramba, fiquei pirando o quanto que as pessoas são especiais na nossa vida! Tudo bem que não sou alguém muito sociável sabe... do tipo que quase apanhava da mãe para dançar na festa junina, se escondia no banheiro, às vezes não descia para o intervalo e tomava lanche na sala... Alguns probleminhas de sociabilidade, engraçados hoje... Acho que podemos chamar assim. Talvez pareça meio palhaça assim de longe, mas na real tenho alguma (muita às vezes) dificuldade em deixar as pessoas se aproximarem sabe...

E fiquei pensando que ainda assim, nesse estilo “caramujo” de ser quantas pessoas especiais fazem parte da minha vida! Amigas muito queridas! Algumas distantes (santo MSN), algumas nem tão distantes, mas que mesmo ficando muito tempo sem se falar, quando falamos percebemos que a amizade continua a mesma, mesmo que demore meia hora para nos “contextualizarmos” diante das mudanças, alguns que nunca mais vi, mas tenho certeza que se encontrar o papo vai ser longo, e aqueles que estão de alguma maneira dia a dia comigo... Conversas, muuuuitas risadas, fico pensando como a gente consegue falar tanta besteira? Não sei, mas que bom que falamos! Algum mau humor às vezes, aquela vontade de gritar sufocante (nem sabia que existia uma vontade de gritar sufocante, mas existe), e estão lá em todos esses momentos. Acho que nunca tive a oportunidade de dizer como são importantes nessa minha história maluca... Mas quero aproveitar o espaço pra dizer que sem vocês essa maluquice da minha vida seria completamente sem graça! Que tenho muito orgulho de todos vocês, de cada conquista, de cada sorriso, de cada piada e de como vamos levando essa nossa vida maluca! E que sou grata por cada palavra, cada sorriso, cada silêncio...

(Image by Sakai)

Amanhã é dia das mães e junto deveria ser comemorado o dia dos amigos que são os que nos entendem, confortam, suportam, divertem, inspiram quando piramos com as mães, pais, irmãos... e com o restante do mundo!

O marido perfeito mora ao lado. É engano!



(Image by Floresco Productions)

Queria falar com o Thiago... (Merda!) É engano... É? Ué, sim, não tem nenhum Thiago aqui. Ah, mas esse telefone não é do Thiago? Não, não conheço nenhum Thiago. Ah, mas esse número é dele... Então, só que esse telefone não é dele e eu nem conheço ninguém com esse nome, tudo bem? então tá... (bem brava).

Meu, por que as pessoas não acreditam quando você fala pra elas que ligaram errado? O que ela pensou, que eu estava escondendo o Thiago? Pelo amor né? Que maneira boa de terminar uma sexta-feira a noite infernal de quente. Que droga, podia pelo menos ser um telefonema feliz né. Alguma novidade engraçada! Shopping lotado, presente de dia das mães quase de última hora = filas! Estou passando em frente ao Boticário que conseguiu ficar mais lotado que o 3.85 que pego ás vezes quando saio do trabalho e grito sem querer “Nooooossaaaa!”. Detalhe, tinha um professor do cursinho que eu estudei há séculos (século passado pelo menos) passando em frente a loja que é claro entendeu que o “nooossa” pra ele! Fiquei muito sem graça, mas parei e conversei (alguma outra saída?). E de cara ele foi falando do meu cabelo “Nossa, radicalizou hein?” Nem cortei tanto assim, mas como fazem anos que não nos víamos pode ser que tenha mudado muito mesmo! “E aí, o que tá fazendo... e o bofe???”. Merda. Cabelo, novidades e bofe? Essa é ordem das coisas será? Por que todo mundo faz esse comentário, tem o mesmo raciocínio, pensa na mesma coisa!!! Tá vendo como não é culpa nossa!? Antes de responder ele se adiantou “Ah fila aaaaanda!!!”... Melhor sorrir e concordar... (ainda que não saiba direito onde essa fila maluca vai dar, e nem se quero ficar nela, ou se estou nela? Muito complexo, deixa pra lá...).

Só sei que o mundo às vezes sacaneia a gente! Seja com telefonemas malucos ou com encontros pirados. Mas tudo bem, pelos menos existem coisas engraçadas ainda! O que nos permite dar muitas e merecidas risadas! Hoje na hora do almoço fugimos (eu e Bia) um pouquinho para a livraria Cultura. Um lugar delicioso pra fugir, xeretar coisas, só complica um pouquinho a hora que dá vontade de comprar, mas tudo bem, de vez em quando rola.

Entre vários títulos interessantes, engraçados, estranhos, “vampiricos” (isso tá em alta ainda) vejo um livro: O marido perfeito mora ao lado! Caraca, quem foi o idiota (que me desculpe o autor) que achou que a gente tá procurando um marido? E perfeito? E mais, que ele é que sabe onde encontrar!? Ah pelo amor né? Mania de o mundo achar que a gente tá o tempo todo pensando, procurando, querendo isso que saco! Mas o pior nem foi só isso, a primeira página do livro adverte (é eu tive que pegar na mão pra analisar mais de perto, afinal com um título folgado desses) e lá estava: Obra ficcional! Óbvio!!! Engano!!! Tá aí um conceito em que não acredito: perfeito. Penso que não existe nada perfeito que não seja ficcional. Desculpem os românticos (até sou também). Acho que existem coisas bacanas, muito boas, desejáveis, ruins, desnecessárias (talvez isso tudo junto às vezes), mas não perfeitas. Meu a gente pode quer várias coisas na vida, e nem todas se traduzem nisso.

Tudo bem, depois de uma semana mega corrida, relaxantes musculares, 2 litros de suco de laranja que resultaram numa gastrite básica e hospital, mau humor é algo possível. Pior que até no mau humor fico tirando sarro das coisas! Mas o pior (ou melhor) é que sei que não tem haver com o mau humor e sim com o que penso... Esse papo me lembrou de uma música da Alanis que gosto bastante... IRONIC! E acho que hoje eu diria que a vida é assim... entre outras coisas... irônica... o que me desespera por um lado e conforta por outro... quando souber distinguir qual lado pesa mais escrevo...

Alanis Morissette

Um homem velho fez 98 anos
Ganhou na loteria e morreu no dia seguinte
É uma mosca preta em seu Chardonnay
É o perdão no corredor da morte, 2 minutos atrasado
Isso é irônico... não acha?

É como chuva no dia do seu casamento
É uma passagem de graça, quando você já pagou
É o bom conselho que você não aceitou
E quem teria imaginado... isto acontece

O Sr. Precavido estava com medo de voar
Ele arrumou sua mala e deu um beijo de adeus em seus filhos
Ele esperou a vida toda para pegar aquele vôo

E enquanto o avião caía, ele pensou
"Bem, isso não é bom..."
Isso é irônico... você não acha?

É como chuva no dia do seu casamento
É uma passagem de graça, quando você já pagou
É o bom conselho que você não aceitou
E quem teria imaginado... isto acontece

Bem, a vida tem um jeito engraçado de aprontar com você
Quando você pensa que tudo está O.K. e tudo está indo bem
E a vida tem um jeito engraçado de te ajudar quando
Quando você pensa que tudo está dando errado e tudo explode na sua cara

Um engarrafamento de trânsito quando você já está atrasado
Um sinal de "proibido fumar" no seu intervalo para o cigarro
É como dez mil colheres quando tudo o que você precisa é de uma faca
É encontrar o homem dos meus sonhos
E então encontrar a linda esposa dele
E isso é irônico... você não acha?
Um pouco irônico demais... eu acho...

A vida tem um jeito engraçado de aprontar com você
A vida tem um jeito realmente engraçado de te ajudar...

Obs.: Acho que às vezes piro como ela no clipe... rsssss


06 maio, 2010

Maria no espelho



  
(Image by Jessica Ojala)


Maria espera a visita de um homem. Maria olha-se no espelho. Maria vira-se, para olhar suas pernas por trás. Maria pensa: “Ihhh aquela mancha roxa continua ali”. Será que ele vai ver? Só se olhar de perto. E ele não vai chegar perto. Com a minha sorte ele não vai chegar nem perto. Oito e meia. Ele já deve estar chegando. Pode me dizer por que você está de vestido? Preto? Apertado? Vai ser um jantar íntimo, aqui mesmo. Ele vem de jeans e camiseta. Ele só usa jeans e camiseta. Deve dormir de jeans e camiseta. Você está linda. Gostosa. Tesão! Muita pintura. Eu pareço uma palhaça. Ele não vai me reconhecer. De pretinho e de baton, vai pensar que errou de apartamento. "Desculpe, eu estou procurando a Mariazinha, minha colega de trabalho, muito sem gracinha". "Não, sou eu mesma, pode entrar". "Você não pode ser a Mariazinha, a Mariazinha que eu conheço não tem pernas". "Tem sim senhor, o senhor é que não tinha notado. E não só pernas. Bunda também". "Bunda também?! Não pode ser a Mariazinha que eu...". Barulho do elevador. É ele! Não é ele.

Este homem não vem? Eu disse oito e meia. Meus brócolis vão murchar. Eu vou murchar. O molho pros brócolis! Esqueci! Não esqueci. Já fiz. Ele não deve gostar de brócolis. Nem sabe o que é. Eu é que não sei nada sobre ele. Quatro meses trabalhando juntos e eu não sei nada sobre ele. Pode ser um tarado. Você não sabe o que o espera rapaz. Experiências novas. Excitantes. Brócolis. Com molho! É ele! Não é ele. Se atrasou. Se perdeu. Desistiu. Também, que idéia. Jantarzinho íntimo. A primeira vez que a gente vai se ver fora do escritório e eu já convido pra vir na minha casa.

Deve estar pensando que eu não quero perder tempo. "Boa noite. Boa noite. Trouxe a camisinha?". Eu devo estar louca. Jantarzinho íntimo. Velas na mesa. Ele é capaz de comer as velas. Vou mudar de roupa. Me vestir de Mariazinha de novo. Não vai dar tempo. Que livro eu botei na mesa de centro pra ele ver que, além de bunda, eu tenho cultura? Já esqueci. Meu Deus não pode ser Paulo Coelho. Vou botar aquele dos santos barrocos de Minas Gerais, que eu ainda não abri. As velas na mesa saem. Está pensando que isso é um filme? Na vida real não tem vela na mesa. É ele! Não é ele.

Ai meu Deus. Vamos nos organizar. Que impressão eu quero dar? Ele entra e descobre... o quê? Primeira coisa: eu não sou a Mariazinha que ele pensa. A Mariazinha que ele vê no escritório é um disfarce. Eu sou... Mariá. Acento no "a". Uma mulher complexa, vital, multifacetada. Grandes pernas, grande cabeça. No trabalho é uma eficiente, discreta, algo contida. Em casa é outra: feminina, interessante. Folheia livros sobre o barroco mineiro, uma de suas paixões. As outras são balé aquático e física quântica. Experimenta com molhos. Sua pasta de dentes é “Crest”, comprada numa pequena farmácia do Village que ninguém conhece. A marca das suas calcinhas? Não usa calcinha. O lugar mais esquisito onde já fez amor foi o confessionário de uma igreja. Barroca. Mineira. Com o padre, só para ter o que confessar. “O quê? Você, o primeiro homem a entrar nesse apartamento que não veio consertar a válvula do banheiro? Ora não me faça rir. Tenho homens para jantar todas as noites e guardo seus ossos para chupar no almoço. Meu caro”. Vou mudar de roupa. Camiseta e calça solta. Afinal, foi a Mariazinha que convidou ele pra jantar e não a Mariá. É preciso um toque de desordem. O barroco mineiro jogado, assim, displicentemente, como se eu estivesse folheando assim que ele chegou. Jogado no chão, é melhor. Se não fica tudo muito certinho. Se não ele entra e pensa “Iiih tudo muito certinho, ela deve ser neurótica por limpeza e provavelmente frígida”. Esta tudo muito no lugar. Acho que vou entortar um quadro. Que mais?

A música! Esqueci a música. Ele entra e está tocando o quê? O coro das mulheres búlgaras. Não, coitado, ele vai se sentir intimidado. Eu de pernas de fora e búlgaras cantando. Búlgaras e brócolis, ele é capaz de sair correndo. Maria Bethânia cantando Roberto Carlos. Sei não, pode dar uma idéia errada. A Mariazinha escolheria Roberto. A Mariá escolhe Phillip Glass. Não, tá doida. Os três tenores. Também não. Keith Jarret. Não. Não tem música. Até a noite se definir. Por que tem noites que vão naturalmente para Frank Sinatra com violinos e noites que vão para Neguinho da Beija Flor. Noites que acabam em Wagner e noites que acabam em Fagner. Se bem que as minhas noites geralmente acabam em Jô Soares Onze e Meia... dependendo de como for a noite, mais tarde coloco alguma coisa pra gente dançar. “Sabe Mariá? você me surpreendeu...”. “Ah, sim?”. “Sim. Eu não sabia que você era uma mulher assim tão (pausa) multifacetada...”. “E isso que você não viu todas as minhas (pausa) facetas. E se não chegar logo não vai ver nenhuma”. Se ele começar a ficar muito chato, eu ponho as búlgaras muito alto e corro com ele. Vou deixar a pintura como está. O vestido também. A mancha roxa também. Afinal, quem é você, hein Maria?

Mariazinha ou Mariá? Quem convidou ele pra jantar foi a Mariazinha do escritório. Ele chega esperando encontrar a Mariazinha e encontra uma mulher. Uma estranha mulher de preto. Troco de roupa ou não troco de roupa. Ele deve estar chegando.

Decisão rápida quem abre a porta? Mariazinha ou Mariá? Ai meu Deus, Mariazinha ou Mariá? Eu posso estar decidindo meu futuro. Este pode ser o momento mais importante da minha vida. A campanhinha! É ele, e agora? Posso ser a Mariazinha hoje e deixar a Mariá para quando ele vier outra vez. E se ele não vier outra vez? Pode se decepcionar com a Mariazinha e depois a Mariá não terá outra chance. Mas se eu for a Mariá de saída pode estragar tudo. Ele pode se assustar, eu posso ser Mariá demais pra ele. Eu posso começar Mariazinha e depois terminar Mariá. Não. Vai deixar ele confuso.

Mariazinha ou Mariá, alguém tem que abrir essa porta!

Par ou ímpar? Que bobagem. Uni, duni, tê, quem vai abrir a porta é – você! Mas quem é você? Vou tirar o vestido. Isso. Abro a porta nua, digo que ainda não acabei de me vestir e venho para o quarto decidir quem sou eu. Quantos passos serão daqui até a porta? Se eu der um passo de Mariazinha e um passo de Maria até a porta, quem chegar na porta ganha.

Se quem chegar na porta for a Mariá, ela já tira o vestido e elimina várias etapas. Antes mesmo do brócolis. Até que enfim uma solução racional. Lá vou eu, Mariazinha, Mariá, Mariazinha, Mariá, Mariazinha...

Luiz Fernando Veríssimo

05 maio, 2010

Último Romance (Esqueci de colocar a letra...)



(Image by John Slater)


Ultimo Romance
Los Hermanos
Composição: Rodrigo Amarante

Eu encontrei quando não quis
Mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
Antes um mês e eu já não sei

E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais
Que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe, pequena

Ah vai!
Me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém
Afim de te acompanhar
E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola

Eu encontrei e quis duvidar
Tanto clichê deve não ser
Você me falou pr'eu não me preocupar
Ter fé e ver coragem no amor

E só de te ver eu penso em trocar
A minha TV num jeito de te levar
A qualquer lugar que você queira
E ir onde o vento for
Que pra nós dois
Sair de casa já é se aventurar

Ah vai, me diz o que é o sossego
Que eu te mostro alguém afim de te acompanhar
E se o tempo for te levar
Eu sigo essa hora e pego carona pra te acompanhar

Meu cupido usa drogas... (talvez o seu também)



(Image by Jacqueline Veissid)

Tá aí uma coisa sobre a qual nunca tinha refletido antes... Entretanto após ouvir três garotas conversando no bar, uma delas muito brava porque “Ele não sabe o que ele está perdendo, quem ele pensa que eu sou” e mais “Como pode? Eu aqui, pensando nele e ele onde? Meu cupido usa drogas!” Sei que ouvir a conversa alheia não é algo muito simpático de se fazer, mas dada a lotação do bar, o barulho perto do palco e a falta de espaço livre para se “estar” lá dentro, foi inevitável grudar na mesa delas.

Enfim, eu e minha amiga até estávamos refletindo sobre algo parecido... Assunto mais recorrente esse hein? Conseguimos ir de abobrinhas para relacionamentos, num curtíssimo espaço de tempo e sem perceber! Mas definitivamente nossa conclusão passou longe de ser tão sintética e objetiva!

Engraçado que acho que a Martha Medeiros tem razão quando fala da nossa urgência emocional, tudo pra ontem e agora! Como pode a gente ser tão impaciente com esses papos do coração? Tipo, “papos do coração” ficou meio momento de amor de alguma rádio, mas é isso mesmo. Tudo bem que em cada metro quadrado que estamos seja onde for (pode reparar) só vemos casais, e aí eu me pergunto, porque não podemos existir felizes sozinhos? Já dizia a Lilia Cabral no Divã que ninguém nasce querendo ser uma metade de laranja, se for pra ser laranja que seja uma inteira e se for pra interagir afetivamente com o sexo oposto (ou com o mesmo sexo quem preferir) que seja pra uma boa laranjada né? E não para juntar metades solitárias que estavam vagando por aí...

Não sei, na verdade embora eu pire um pouco nesse assunto também (será que tem alguma garota que não pire?), acho que estar bem com a gente é o primeiro passo para estar bem no mundo... e quem sabe trombar "um" laranja por aí... E quando falo estar bem com a gente não é no estilo auto ajuda sabe, sorrindo, satisfeito com o mundo, é simplesmente ir se encontrando no meio desse caos que é o dia a dia... feliz às vezes, puto da vida outras... por que acho que estar bem tem dessas coisas... se sentir insatisfeito, bravo ou de saco cheio também é estar bem, significa que ainda sentimos coisas diante dessa correria infinita.

Fico pensando nas pessoas que a gente conhece por aí, em tanta coisa bacana que a gente vive, experimenta, descobre e porque ainda assim ficamos suspirando com uma possibilidade do tipo “Manuel Carlos” na nossa vida... Claro que essas porcarias que a gente assiste, os milhões de casais que encontramos por aí, as músicas que insistem em falar desse tema colaboram para a nossa maluquice. E olha que eu gosto de um bom romance em livros, filmes... Mas tudo tem limite né? O que é aquela música “Último Romance” do (ou dos? não sei, enfim...) Los Hermanos? O Rodrigo Amarante que me desculpe mas diz pra mim se qualquer pessoa que não tiver nada pra sentir na fila do pão além de fome e sono se for cedo não vai ficar revoltada? "E até quem me vê lendo o jornal/ Na fila do pão, sabe que eu te encontrei..." Fico me perguntando por que chama Último Romance, talvez porque depois de ouvir isso a gente desista... se não do romance, pelo menos da fila do pão...

Mas tudo bem, a vida continua, e sempre poderia ser pior (não consigo deixar meu lado pessimista de lado), se o meu cupido só usa drogas, só posso torcer para que ele em algum momento de alucinação muito inspirado acerte... quem? Aí já é demais... Mas alguém que como eu apesar de se revoltar (muitas) às vezes com a parte romântica do planeta, ainda acredite que dá pra ser inteiro e dividir coisas com alguém... Afinal alguém que não me lembro já dizia que se é divertido deve valer a pena...

E quanto a fila do pão, sugiro que ao invés de nos revoltarmos (talvez essa sugestão seja pra mim, porque quase todo mundo que converso nem conhece essa música)... Aproveitemos para quem sabe conhecer pessoas novas e interessantes que como nós querem apenas comprar o pão e voltar pra casa despretensiosamente... Ou ao invés disso escolher um belo doce, afinal quem sabe na fila do doce... brincadeira!

04 maio, 2010

Loucura pensar a pessoa que nos tornamos...



(Image by Joy Sale)

Essa semana encontrei um paquera dos tempos de colégio no shopping (nossa falando assim parece foi no século passado... e na verdade foi mesmo...) Que encontro mais besta pensei?!

É claro que depois das constatações básicas: nossa ele engordou!? E ela está mais feia!? Me veio um pensamento que não consegui controlar: quem eu havia me tornado? Caramba, e eu?

Nenhum grande feito até agora, mas digamos que chegar até aqui é uma grande coisa! Conheci pessoas especiais, e conheço mais a cada dia, fiz escolhas (ainda que cheia de dúvidas malucas, já disse que meu sobrenome poderia ser indecisão), terminei a faculdade, entrei num mestrado maluco, fiquei 7 meses viajando... fui... voltei... Hoje sou muito menos ansiosa, ainda pé atrás com a maioria das coisas e pessoas do planeta, mais teimosa (quem diria que isso seria possível), mas forte e sensível ao mesmo tempo, com um pouco mais de esperança nos dia que estão por vir, e um pouco mais de crença nas minhas possibilidades (ainda que não saiba exatamente quais são elas...).

Parece tão pouca coisa dentro de uma frase, mas lendo agora, sinto que pra mim é muito!

Ok, que o meu horóscopo maluco me dizendo que esse seria o melhor final de semana do meu ano me deixou pensativa também?! Afinal se fosse um desastre o que eu esperaria dos finais de semana restantes!?

Assistir Beleza Roubada, apesar de interessante porque eu queria ver novamente depois de tanto tempo, não é o que eu definiria de melhor final de semana do ano... Se bem que esse filme é de alguma maneira muito especial, só não consigo achar que a beleza foi roubada, talvez descoberta, reinventada, dividida, ou tudo isso junto, mas de fato não tenho muita veia para interpretações "cult", sabe... Mas tudo bem, melhor ou pior final de semana, tudo com o que não concordamos no horóscopo temos o direito de não acreditar e esperar o dia seguinte, a semana seguinte ou o mês seguinte, que seja, e dar uma nova chance para os astros acertarem...

Junto a tudo isso tive uma experiência desnecessária eu diria: tirar fotos 3X4! Quem é que consegue ficar normal numa foto daquelas? Sem a boca torta, ou parecendo ter só bochechas, ou só olhos... Tudo bem que eu tenho problemas com fotos desde que nasci acho... Ninguém merece, mas além de observar a minha cara de brava, a mancha de sorvete na minha blusa azul de listrinhas cor de rosa (devia ter escolhido uma blusa mais discreta), constatar a minha dificuldade de sorrir em fotografias (pra compensar as risadas bobas e sem hora...) tive que olhar pra mim!

E pôxa, mudei né!? Pro bem e pro mal... acho que não há mudança numa única direção... E acho que a mudança é o que nos assusta, conforta e movimenta... Claro que não ter o controle (quase nunca) dela, como boa sagitariana me irrita muito... mas ao mesmo tempo me obriga a ser mais leve...

Meu avô diria que continuo a mesma, mas o fato é que olhar para quem eu me tornei me passou uma sensação de conforto... não de acomodação, ainda quero mudar muita coisa acho... mas de conforto... de que valeu a pena esse caminho sabe? Algo como se não soubesse direito ainda pra onde estou indo... uma sensação de medo também... Obviamente do futuro! Mas prefiro pensar que é um medo bom, um misto de curiosidade com certa intuição feminina de coisas boas... E caso seja diferente... Esperemos os encontros bestas que nos farão pensar e caso os encontros não aconteçam... Haverá o horóscopo para dar asas a nossa imaginação... E novas semanas e finais de semana para serem os melhores... ou não...

Loucura pensar a pessoa que nos tornamos... e mais ainda as infinitas possibilidades de nos tornarmos...

A tristeza permitida



(Image by John Dowland)

Se eu disser pra você que hoje eu acordei triste... que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que normalmente faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair para compras e reuniões - se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem para sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?

Você vai dizer "te anima" e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer para eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro da nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.

Depressão é coisa muito mais séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou com si mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente - as razões têm essa mania de serem discretas.

"Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago de razão/ eu ando tão down...". Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. "Não quero te ver triste assim", sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar o seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinicius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip hop, e nem por isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor - até que venha a próxima, normais que somos.


Martha Medeiros


Obs.: Me conforta muito pensar na tristeza dessa maneira, como mais um dos tantos sentimentos que nos habitam, e que assim como todos os outros vão marcando a nossa trajetória... E ainda que o Nando Reis também nos diga pra não ficarmos tristes pois não vale a pena... às vezes vale sim...



Livre como um Deus
Nando Reis
Composição: Nando Reis

Não fique triste assim
Não vale a pena
Erros e acertos
São filhos do mesmo pai

E a mãe que fez a dúvida
Deu vida a certeza
O tempo há de mostrar
O mundo se transformar

Mais triste é quem diz
Que para um problema
Só existe a solução
Da matemática

O que me faz feliz
São coisas pequenas
Um lindo arco-íris
Riscando o fim de tarde

E eu olho pra você
E vejo toda a graça
Seus olhos brilham pretos
Seus lábios sem palavras
Seus gestos com timidez
Seus dedos bem pintados
Seu rosto sem segredos
Sorrindo leite em lágrimas

Guarde esse amor
Ele é todo seu
Lindo como a flor
Livre como um deus