17 outubro, 2010

A arte de viver



(Image by Dougal Waters)

Uns cantam, uns dançam, outros fazem embaixadas por 24 horas sem deixar a bola cair. Uns são campeões de pára-quedismo, uns pintam telas abstratas, outros equilibram pratos na ponta do nariz. Vivem nas revistas, na tv, dando entrevistas.

Quem não tem um talento especial acaba se sentindo um penetra nesta festa onde todos tem tido os seus quinze minutos de Caras. Uns sabem desfilar, outros são chefes de cozinha, há os reis do pagode. Uns pilotam carros, outros apresentam talk shows, volta e meia aparece um novo ilusionista. Como não se sentir descartado nesse planeta de tantos destaques? Simples: Valorizando nossos pequenos grandes talentos.

Viver é uma arte. A arte de conversar com desconhecidos, por exemplo. De se revelar em poucas palavras pra uma pessoa que não sabe nada de você, e você nada dela, e estabelecer um contato que seja agradável e frutífero para ambas as partes, evitando silêncios constrangedores ou, pior, o sono.

A arte de ser pontual. Para pouquíssimos. Calcular exatamente o tempo que se chega de um ponto a outro da cidade e ter a capacidade de prever o imprevisto: trânsito mais caótico do que o normal, chuva, falta de lugar para estacionar. Atender um paciente na hora marcada. Decolar no horário previsto. Não entrar atrasado no teatro. Um dom.

A arte de manter uma amizade por anos a fio. Aquele amigo da adolescência que foi morar em outro país. Aquela amiga com quem você se desentendeu por causa de uma bobagem. Aquela turma que já não pensa como você. É uma arte saber onde e quando procurá-los, telefonar nos momentos especiais, esquecer as picuinhas, aceitar seus novos pontos de vista, lembrar e rir juntos do passado. Um talento a ser aprimorado diariamente.

A arte de se isolar. De penetrar no nosso íntimo, de buscar ajuda na meditação, debeliberadamente não pertencer a grupo nenhum e fundar uma natureza própria, e ainda assim não ser um ermitão, ser apenas alguém que de tempos em tempos se retira para se reencontrar. Há uma técnica pra isso.

A arte de perceber segundas intenções, a arte de se controlar, a arte de fixar prioridades, a arte de saber furar os bloqueios, a arte de não desistir na primeira dificuldade, a arte de não viver uma vida de aparências, a arte de andar desarmado, metafórica e literalmente falando.

Cada um de nós mereceria ao menos uma reportagem para homenagear nossos dons mais secretos, aqueles que acontecem bem longe dos holofotes. O dom de viver sem aplauso e sem plateia. O glorioso e secreto dom de vencer os dias.

Martha Medeiros

Medo...



(Image by Seiya Kawamoto)

Houve um tempo em que o medo era de cair...
Houve um tempo em que o medo era de estar lá embaixo...
Houve um tempo que o medo era levantar...
Chegou o tempo do medo de não saber o que fazer quando estiver em pé novamente.

10 outubro, 2010

Se nada passa... Nunca se leve tão a sério...

Talvez um dia eu consiga!



Todos os Caminhos
Lenine
Composição: Lenine/Dudu Falcão

Eu já me perguntei se o tempo poderá realizar meus sonhos e desejos, será que eu já não sei por onde procurar ou todos os caminhos dão no mesmo e o certo é que eu não sei o que virá só posso te pedir que nunca se leve tão a sério nunca se deixe levar, que a vida é parte do mistério, é tanta coisa pra se desvendar

Por tudo que eu andei e o tanto que faltar, não dá pra se prever nem o futuro, o escuro que se vê quem sabe pode iluminar os corações perdidos sobre o muro e o certo que eu não sei o que virá, só posso te pedir que nunca se leve tão a serio, nunca se deixe levar que a vida, a nossa vida passa e não há tempo pra desperdiçar.

Nada passa?



(Image by Nichola Sarah)

Feriado prolongado + faxina + alguns achados + filmes + cobertas + chocolate quente = pensamento longe e lembranças!
Faz tempo que não passo por aqui. Pra dizer a verdade passar eu passo, faz tempo que não consigo parar por aqui. E pra completar a 'verdade' a vida anda muito corrida. Nesse sentido não tem me deixado dúvidas de que ela 'passa', e rápido.  Há algumas semanas estava fazendo planos para o feriado e de repente acordei nele e percebi que não tive exatamente tempo de fazer os planos. O que para mim é importante, já que sou do tipo de ser humano que gosta de planejar tudo. Assisti alguns filmes (muitos na verdade) que me fizeram pensar que a vida de fato passa rápido, e que de novo os encontros malucos que ela nos proporciona fazem cada segundo dessa 'corrida' ter valido à pena de alguma maneira.

Entretanto, quando fui arrumar as minhas coisas (algo que pelo jeito farei até morrer, porque parece uma arrumação interminável) me dei conta de que até mesmo os encontros que não aconteceram, as ausências, são também 'momentos' que valeram à pena. Talvez nos façam perguntar pelo que poderia ter sido, por como poderia ter ou não sido... Mas o fato é que fazem parte desse nosso quebra cabeça maluco e muitas vezes sem sentido. Não sei porque fiquei pensando nisso, mas lembrei dessa crônica da Martha e acho que ela tem toda razão quando diz que 'Tudo o que nos fez feliz ou infeliz serve para montar o quebra-cabeça da nossa vida, um quebra-cabeça de cem mil peças'. No fim das contas, fiquei pensando que tanto faz se passa ou não, o que importa é que faz parte do que somos, independente de qual parte seja...

Tempo sujeito a chuvas, vento e mais algumas lembranças por aqui. Planos? Comer, rezar e amar... Ou dormir, ver mais filmes e aguardar (ou buscar) as próximas peças!

Nada passa

Uma das músicas mais bonitas da MPB é aquela composta pelo Nelson Motta e cantada pelo Lulu Santos, que diz que na vida tudo passa, tudo sempre passará como uma onda no mar. Linda. Mas é mentira.

A garota está sofrendo o diabo porque brigou com o namorado e a mãe consola com a frase de sempre: vai passar. O garoto levou bomba no vestibular e o melhor amigo diz: na próxima vez você passa. Analisando superficialmente, é verdade, a dor, um dia, cessa. Mas não se iluda: ela não bateu as botas, está apenas cochilando. Tudo passa? Nada passa!

É isso que ninguém tem coragem de nos dizer. A dor da perda, a dor de fracassar, a dor de não corresponder a uma expectativa, a dor de uma saudade, a dor de não saber como agir, de estar perdida, instável, de ter dúvidas na hora de fazer uma escolha, todas estas dores, que parecem pequenas para quem está de fora, nos acompanharão até o fim dos nossos dias. Elas não passam. Elas ficam. Elas aninham-se dentro da gente, o que não deve servir de motivo para pularmos de uma ponte. Mario Quintana escreveu que nós somos o que temos e o que sofremos. Sem dor, sem vida interior.

Não passam as dores, também não passam as alegrias. Tudo o que nos fez feliz ou infeliz serve para montar o quebra-cabeça da nossa vida, um quebra-cabeça de cem mil peças. Aquela noite que você não conseguiu parar de chorar, aquele dia que você ficou caminhando sem saber para onde ir, aquele beijo cinematográfico que você recebeu, aquela visita surpresa que ela lhe fez, o parto do seu filho, a bronca do seu pai, a demissão injusta, o acidente que lhe deixou cicatrizes, tudo isso vai, aos pouquinhos, formando quem você é. Não há nenhuma peça que não se encaixe. Todas são aproveitáveis. Como são muitas, você pode esquecer de algumas, e a isso chamamos de "passou". Não passou. Está lá dentro, meio perdida, mas quando você menos esperar, ela será necessária para você completar o jogo e se enxergar por inteiro.

(Martha Medeiros)