(Image by Nichola Sarah)
Feriado prolongado + faxina + alguns achados + filmes + cobertas + chocolate quente = pensamento longe e lembranças!
Faz tempo que não passo por aqui. Pra dizer a verdade passar eu passo, faz tempo que não consigo parar por aqui. E pra completar a 'verdade' a vida anda muito corrida. Nesse sentido não tem me deixado dúvidas de que ela 'passa', e rápido. Há algumas semanas estava fazendo planos para o feriado e de repente acordei nele e percebi que não tive exatamente tempo de fazer os planos. O que para mim é importante, já que sou do tipo de ser humano que gosta de planejar tudo. Assisti alguns filmes (muitos na verdade) que me fizeram pensar que a vida de fato passa rápido, e que de novo os encontros malucos que ela nos proporciona fazem cada segundo dessa 'corrida' ter valido à pena de alguma maneira.
Entretanto, quando fui arrumar as minhas coisas (algo que pelo jeito farei até morrer, porque parece uma arrumação interminável) me dei conta de que até mesmo os encontros que não aconteceram, as ausências, são também 'momentos' que valeram à pena. Talvez nos façam perguntar pelo que poderia ter sido, por como poderia ter ou não sido... Mas o fato é que fazem parte desse nosso quebra cabeça maluco e muitas vezes sem sentido. Não sei porque fiquei pensando nisso, mas lembrei dessa crônica da Martha e acho que ela tem toda razão quando diz que 'Tudo o que nos fez feliz ou infeliz serve para montar o quebra-cabeça da nossa vida, um quebra-cabeça de cem mil peças'. No fim das contas, fiquei pensando que tanto faz se passa ou não, o que importa é que faz parte do que somos, independente de qual parte seja...
Tempo sujeito a chuvas, vento e mais algumas lembranças por aqui. Planos? Comer, rezar e amar... Ou dormir, ver mais filmes e aguardar (ou buscar) as próximas peças!
Nada passa
Uma das músicas mais bonitas da MPB é aquela composta pelo Nelson Motta e cantada pelo Lulu Santos, que diz que na vida tudo passa, tudo sempre passará como uma onda no mar. Linda. Mas é mentira.
A garota está sofrendo o diabo porque brigou com o namorado e a mãe consola com a frase de sempre: vai passar. O garoto levou bomba no vestibular e o melhor amigo diz: na próxima vez você passa. Analisando superficialmente, é verdade, a dor, um dia, cessa. Mas não se iluda: ela não bateu as botas, está apenas cochilando. Tudo passa? Nada passa!
É isso que ninguém tem coragem de nos dizer. A dor da perda, a dor de fracassar, a dor de não corresponder a uma expectativa, a dor de uma saudade, a dor de não saber como agir, de estar perdida, instável, de ter dúvidas na hora de fazer uma escolha, todas estas dores, que parecem pequenas para quem está de fora, nos acompanharão até o fim dos nossos dias. Elas não passam. Elas ficam. Elas aninham-se dentro da gente, o que não deve servir de motivo para pularmos de uma ponte. Mario Quintana escreveu que nós somos o que temos e o que sofremos. Sem dor, sem vida interior.
Não passam as dores, também não passam as alegrias. Tudo o que nos fez feliz ou infeliz serve para montar o quebra-cabeça da nossa vida, um quebra-cabeça de cem mil peças. Aquela noite que você não conseguiu parar de chorar, aquele dia que você ficou caminhando sem saber para onde ir, aquele beijo cinematográfico que você recebeu, aquela visita surpresa que ela lhe fez, o parto do seu filho, a bronca do seu pai, a demissão injusta, o acidente que lhe deixou cicatrizes, tudo isso vai, aos pouquinhos, formando quem você é. Não há nenhuma peça que não se encaixe. Todas são aproveitáveis. Como são muitas, você pode esquecer de algumas, e a isso chamamos de "passou". Não passou. Está lá dentro, meio perdida, mas quando você menos esperar, ela será necessária para você completar o jogo e se enxergar por inteiro.
(Martha Medeiros)