30 junho, 2010

Asas, brasas, vida...


(Image by Jennifer Becker)

"A vida é um constante exercício
de mãos, criando asas
de pés, pisando em brasas".

 Leila Míccolis

Obs.: Depois de um dia pesado como hoje queria mesmo ficar é de pernas pro ar! Chega de pisar em brasas, melhor focar na possibilidade das asas certo?

27 junho, 2010

Tempo? A fórceps...



(Image by Laura Rounds)

Final do ano irei viajar com algumas amigas! Estava pensando nisso ontem, afinal depois de trabalhar uma tarde toda de um sábado mais que ensolarado, nada melhor que pensar em possibilidades de fugir. E junto com isso comecei a pensar nas coisas gostosas que quero fazer, voltar a fazer, tentar fazer! Essa viagem é uma delas!

Lembrei do meu curso de roteiro para documentários que está meio parado, esperando formar turma. E aí percebi que resolvi atacar de cinema, saídas com as amigas pra dar risada, show do Zeca Baleiro (ainda que na praça de alimentação do Shopping Dom Pedro), Nando Reis e Zeca de novo em São Paulo (Núbia, precisamos comprar logo os ingressos, e Bia esse não tem desculpa ok?!), dormir (que delícia desmaiar com um edredom fofinho), comer coisas gostosas!

Essa semana aconteceu uma coisa completamente idiota, que pensei que só acontecia na TV sabe, trombei uma porta de vidro, caí sentada, quase quebrei o nariz, o dente... Fiquei pensando depois enquanto estava indo na farmácia, no dentista... Afinal se a vida já não está fácil com o rosto no lugar, imagina sem nariz e dente? Enfim, que esse acidente idiota é culpa parte da minha desatenção com o planeta e parte da minha correria de cada dia sabe?!

Continuei pensando que no meio de trabalho, reuniões, respostas, ônibus lotado, frio, calor, fome, preguiça, sono, aulas, seminários, livros, mestrado... Seria bem interessante encontrar/ providenciar/ plantar/ improvisar (seja lá o verbo que for) tempo para as coisas boas também! Afinal se trombadas em portas conseguem me fazer encontrar tempo, coisas boas devem fazer mais!

E tudo isso me lembrou uma crônica da Martha que gosto muito, que se chama "A fórceps"...

Que consigamos driblar o tempo!


(Image by FPG)

A Fórceps

Recebo o e-mail de uma amiga contando que, mesmo não tendo tempo para mais nada,voltou para as aulas de dança,que está fazendo à noite. Diz ela: "Tem coisas que devemos abrir espaço a fórceps, ou corremos o risco de serem extinguidas de nossas vidas".

Fórceps todos sabem o que é. Um instrumento que, em obstetrícia, serve para extrair o bebê do útero, em caso de pouca dilatação do ventre. Falando assim, parece uma coisa agressiva, mas não é. É um help. Se a natureza não está ajudando, o fórceps vai lá e puxa o bebê pra vida. Pois é assim que estamos levando os dias: a fórceps.

Se existe uma coisa que não se dilata espontaneamente é o tempo, contrário, está cada vez mais apertado, então a gente tem que tratar de extrair tudo o que a gente quer da vida na marra mesmo. Forçando um pouco. E lá vamos nós pra noite, mesmo com medo da própria sombra.

Vamos jantar, vamos ao cinema, vamos ao bar, vamos à casa de amigos,vamos cantarolando dentro do carro e com os vidros bem fechados, vamos despistando as neuras e tentando estacionar bem longe das estatísticas estampadas nas páginas policiais E a gente promete nunca mais telefonar para quem nos faz sofrer mas acaba telefonando, e ele atende, e implica, e a gente some, eele chama, e a gente volta, e briga, e ama, e sofre, e ama, e ama, e ama, desama, e termina, e quando parece que cansamos, que não há mais espaço para um novo amor, outro aparece, outro parto, começa tudo de novo, aquele ata-e-desata, o coração da gente sendo puxado pra fora.

E a gente faz mágica: vive 32 horas por dia, oito dias por semana, 14 meses por ano - e com um salário microscópico. Fazemos a volta ao mundo com meio tanque de gasolina, dormimos seis horas por noite, sonhamos acordados o tempo inteiro.Bebemos um drinque com as amigas e voltamos para casa sóbrias, entramos no quarto das crianças sem acordá-las, um pássaro não seria mais leve.

Lemos todos os livros do mundo nos intervalos da novela, paramos dois segundos para olhar o pôr-do-sol pela janela, telefonamos para nossa mãe ao mesmo tempo em que respondemos o e-mail de um cliente, e se alguém sorri para nós, a gente se aproxima, se arrisca e renasce nestas chances de vida.

Porque senão é da casa pro trabalho e do trabalho pra casa, deixando o tempo agir sozinho, dilatações espontâneas. E, como elas não acontecem, permanecemos paralisados na vidinha mesma de sempre, lamentando o fim das nossas aulas de dança.

Martha Medeiros

25 junho, 2010

Caminhar sozinha?!



(Image by Sami Sarkis)

Tava ouvindo uma música hoje que dizia assim: “Eu só queria saber por onde caminhar/E não ficar esperando alguém vir me buscar...”, de novo acho que a música nem fala nada sobre o que me fez pensar, aliás, acho que ela fala do contrário... Aquela velha história de sentir falta de alguém... Não sei! Mas música é pra isso também, pra nos fazer pensar, ainda que em coisas que não tenham necessariamente haver com elas... O fato é que agora a noite estava conversando com uma amiga quando de repente escrevi a seguinte frase... “é muito bom poder andar e cair com as próprias pernas...”. Talvez não tenha muito sentido olhada assim, mas quando li na tela do computador percebi que loucura! Ainda não tinha me dado conta desse movimento.

Talvez a correria do dia a dia colabore nesse sentido, mas fiquei pensando em como nos acostumamos a ter pessoas por perto. E não estou dizendo que não seja bom tê-las, amigos, colegas, família, seja lá quem forem. Só quero dizer que de alguma maneira estranha(mente humana, ou não só humana também) nos acostumamos a ter sempre alguém 'tocando a vida com a gente'.

Acho que isso tem uma parte boa sim... Não na mesma proporção do Tom Jobim de "é impossível ser feliz sozinho", mas sim, as pessoas com certeza dão um colorido especial à nossa sagrada correria diária. Mas de repente nos vemos sozinhos e bate aquela insegurança de como vai ser? E aí, como vou dar conta? Como vou conseguir sozinha? E, de repente (que não é exatamente de repente, e sim um mega movimento nosso para isso) (SEM) mágica: a gente consegue! E consegue concretizar planos, fazer outros, construir novos sonhos, substituir outros, tropeçar, tirar as pedras do caminho, encontrar outras...

E na loucura de novo (hoje estou com a palavra loucura na ponta da língua... como diria a minha terapeuta, fica pra pensar [rs]...) nem percebemos que além de dar conta, de andar com as nossas pernas, de cair com elas... Nós levantamos também! Sozinhos! E como é estranho se sentir assim?! Custamos a acreditar que foi possível, que é possível!

Longe de mim desconsiderar todo apoio, troca, alegrias, tristezas e surpresas que as pessoas nos proporcionam, mas parece que saber que podemos dar conta de nós mesmos é algo muito significativo! E faz com que possamos olhar pra tudo isso de uma forma diferente...

Ainda que nunca estejamos sozinhos de fato, parece que respiramos diferente, caminhamos diferente, falamos diferente... Acho que paramos de esperar alguém vir nos buscar e podemos simplesmente (ainda que isso quase nada tenha de simples...) caminhar...

Fica a música pra quem quiser conhecer...


De longe
Tihuana

24 junho, 2010

Poetas...



(Mário Quintana)

"Um bom poema é aquele que nos dá a impressão
de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!"

Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo

Obs.: Impressionante como vocês conseguem fazer isso! Queria que soubessem o quanto é significativo pra gente quando 'nos lemos' nos poemas de vocês... E ficamos pensando, como puderam escrever o que sentimos? E vocês realmente fazem isso muito bem!

21 junho, 2010

Miedo...



(Imagem by Marta Bevacqua)

“Se bastasse falar do medo para superá-lo, já estaríamos livres deste sentimento há muito tempo. É impossível viver sem ele. Podemos dizer que o medo faz parte daquelas razões do coração desconhecidas da razão que rege os pensamentos” (Marcia Tiburi, A forma mais comum do medo é o medo do medo).

Estava conversando com uma amiga (muito querida por sinal), e o tema era medo! Achei que o foco fosse romance, claro, romance também, mas muito mais medo! Já reparou como sentimos medo de quase tudo? Medo de gostar de alguém, medo de não gostar de alguém, medo de não gostar o suficiente, ou de gostar demais, medo de perder a amizade, medo de contar que gostamos e medo dele nunca saber disso... isso só falando em gostar...

Sem contar os medos que sentimos em casa, na rua, sozinhos deitados no quarto, no banho, no supermercado, no trabalho... medo de não dar certo, medo de dar certo, medo errar, medo de acertar e não saber o que fazer, medo de não dar conta, medo dos desafios, medo das novidades que por mais que nos movimentem nos deixam inseguros... Afinal, estamos diante do desconhecido, ou muitas vezes do “não conhecido muito bem” e honestamente acho que nos acostumamos com a segurança do saber, do conhecer e no meu caso (que também é o caso de todas as pessoas que insistem em prever o futuro) imaginar o resultado!

Sabe que além da Martha de quem nem dá pra perceber quase que gosto muito, tenho lido alguns textos da Marcia Tiburi e gostado muito também. Ela escreveu um artigo sobre o medo intitulado “A forma mais comum do medo é o medo do medo” e só posso concordar que é!

Antes de termos medo, temos medo de sentir medo!!! E não sei como nunca reparei nisso! A srta medrosa! Sempre duvidando de tudo, sempre pensando nas piores possibilidades (o que na minha teoria me deixa pronta pra parte ruim e pra curtir os bons resultados ‘inesperados’, se eles existirem claro!), sempre com medo! Ah o inesperado! Esse me apavora! Benditos imprevistos! Me tiram o chão, que já parece querer fugir dos meus pés naturalmente e sem muito esforço.

E enquanto estávamos conversando percebi o quanto é fácil encorajar os outros e o quanto o medo do outro nos parece mais simples de resolver. Impressionante né!? Já reparou quantos amigos encorajamos o tempo todo, mas lá no fundinho pensamos ‘será que eu teria coragem?’, ou ‘será que vai dar certo?’. Mas lá no fundo de novo (nem tão no fundo assim na verdade) acreditamos sinceramente que eles são capazes! E que pode dar certo! E ainda bem que o movimento é esse, porque mil outras vezes somos nós os encorajados a arriscar! E no fim... do chão ninguém passa.

E o pior é não consegui pensar em nada pra amenizar esse medo todo que não seja conviver com ele, enfrentá-lo (às vezes e quando nos parecer - ainda que ilusóriamente e encorajados pelos nossos amigos - seguro [rs]) e ter paciência! E aí a Marcia tem razão novamente ao nos alertar que...

“Podemos odiar o medo, querer extirpá-lo de nossas vidas, mas nem sempre o fazemos pela via mais simples, porque é muito difícil combater um sentimento. Melhor, quando se trata de sentimentos, aprender a conviver com eles. Um sentimento cresce na exata proporção em que o negamos. Torna-se mais leve quando o aceitamos. É a única chance de que nos deixe em paz”. (Marcia Tiburi, A forma mais comum do medo é o medo do medo).
 
Pra nos ajudar a pirar...

Miedo
Lenine e Julieta Venegas
Composição: Pedro Guerra/Lenine/Robney Assis

"Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo"

20 junho, 2010

Desejar o Desejo



Desejar o Desejo [1]

Por Marcia Tiburi

Costumamos querer sem saber o que queremos, costumamos falar de desejo sem saber o que ele significa. Fala-se tanto em desejo que ficamos confusos com seu sentido. Arthur Schopenhauer, no século XIX, pensava que o desejo era o motor do sofrimento. Desejar resultava em ser infeliz. O filósofo tinha certa razão, pois o desejo não vem com o equilíbrio como brinde. E a pergunta, a princípio ingênua, “o desejo é afinal bom ou ruim?” não nos abandona.

Apesar da relação entre desejo e excesso, à sensação de aventura impressionante que uma possível “descoberta” do desejo nos convida, nos tornamos temerosos do desejo. Todavia, permanecemos desejando. Se não estamos às voltas à procura de nosso desejo por conta própria, sempre há quem esteja por perto dizendo que temos que encontra-lo e que isto será uma revolução pessoal.

Há quem fale da diferença entre querer e desejar, uns afirmando que o querer é racional e consciente e o desejo é irracional e inconsciente. É uma boa distinção. De qualquer modo, mesmo confusos, sabemos que o desejo sempre nos põe diante de um abismo que apenas com paciência e atenção somos capazes de atravessar em nosso dia a dia. Este abismo é o outro. É visando-o que descobrimos o que ele realmente é.

Estamos orientados a sempre desejar alguma coisa em relação ao outro, seja ele algo, uma pessoa, a sociedade ou o futuro. Quando desejamos o desejo, a vida vai bem. Nos movemos atentos à beleza, à tragédia, ao sublime da existência e tudo pode ser interessante e motivo de alegria. Baruch Spinoza, no século XVII, falava do desejo como uma espécie de impulso para a vida. A sua melhor qualidade era a produção da alegria como afeto saudável que nos fazia encontrar o outro como dádiva, luz, maravilha.

Para além da felicidade que advém do mero desejar o desejo, desejamos algo diferente dele. Às vezes desejamos as coisas e, como não conquistamos tudo o que queremos, sofremos. Quando desejamos pessoas podemos sofrer mais ainda, já que ao desejar outra pessoa que deseja como nós, nos deparamos com o obstáculo do seu próprio desejo que pode ser avesso ao nosso e nos rejeitar.

Muitas vezes, mesmo desejando alguém e tendo a sorte de uma amizade ou um amor correspondido pomos tudo a perder. Se não desejamos o que o outro é, acabamos por nossa própria conta que ele deveria ser. Mas quem teria este direito de desejar por nós?

Como alguém deveria ser

Não se trata apenas de desejar algo que o outro “deveria” nos dar e chorar porque não fomos contemplados, ou assumir com dignidade a frustração, mas de desejar o modo como alguém “deveria ser”. É como se o outro não fosse o que é, devendo sempre ser diferente para agradar o gosto do seu crítico de plantão. Tornamo-nos críticos exímios socialmente na arte de falar mal, de apontar defeitos, de querer, afinal, que o outro seja como queremos que ele seja. Nunca o que ele é. E se nos casamos com este outro, ou nos tornamos pais, ou precisamos conviver no trabalho?

Em casa, no trabalho, na escola, na empresa, esta postura carrega um gesto de desamor que, em graus variados, pode chegar ao ódio e à intolerância que são o extremo da falta de capacidade de dialogar ou de, simplesmente, deixar que o outro seja o que ele é, a seu modo. Mas e como “eu” deveria ser? Será que esta pergunta teria consistência?

Muitas vezes exigimos das pessoas atitudes e comportamentos que nós mesmos não temos, mas que supomos nossa característica mais essencial. Perguntados, entretanto, nem sempre podemos afirmar com precisão onde, como e quando tais características se manifestam em nós. Qual será a função desta exigência? Se critico o outro por sua preguiça é por que, ao contrário, eu sou trabalhador e esforçado? Se o critico por ignorância, eu sou sábio? Se o critico em sua antipatia, sou eu o simpático? Se o critico por falta de ética, eu sou ético? Falando do outro eu sempre me convenço de que sou melhor do que ele ou, antes, por me considerar perfeito já afirmo minha competência na crítica. Mas, sobretudo, acoberto a chance de que eu esteja na berlinda, sendo o alvo.

Nossos comportamentos geram valores. Não são apenas o fruto de valores preexistentes, mas nós mesmos construímos as bases a partir das quais agimos em nosso futuro e interferimos, sobretudo, no modo de ser de outras pessoas. Este modo de ser leva à decisões e ações mais ou menos livres que moldam a totalidade da vida.

A liberdade do outro é o começo da minha

Nossa sociedade costuma demonstrar seus valores cultuando-os. Este culto mostra duas coisas: que temos uma imensa capacidade de amar símbolos, pessoas ou coisas, e que, justamente por isso, também somos capazes de muita ilusão.

Quando desejamos ilusões não atingimos a profundidade do nosso desejo. Não devemos apenas pensar nas falsas necessidades que fazem operar nosso desejo, as inventadas pela sociedade em seu modo de produção atual. Devemos pensar nos valores que impomos a quem não é como nós somos e que compõem nosso desejo. A atenção crítica a si mesmo e ao outro precisa de óculos cuja lente seja a liberdade de ser que é direito de cada um. A liberdade do outro é onde inicia a minha.

[1] Publicado em Vida Simples em 2008.

19 junho, 2010




"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".

José Saramago - 16/11/1922 - 18/06/2010

17 junho, 2010

Se não dá pra ser completamente feliz...



(Quadro - LU/ME - Feira Hippie de Campinas)

Cuidado com o que pensa.... E, se tudo sempre pode piorar... de fato eu tenho medo! E eu que estava toda animada com a seguinte frase no meu MSN "Se bem que o mar as vezes muda...". Só não estava contando que poderia rolar um tsunami ou algo assim!  Honestamente meu foco era praia, pôr-do-sol...

Isso não é uma reclamação ok?! Prefiro encarar como uma constatação de que de fato as coisas podem piorar. Então talvez melhor não usar essa frase, nem pensar... ah, tem quem acredite na força do pensamento... e olha se o meu tem esse poder eu bem vou tentar canalizar pra algo mais produtivo!
Resumindo: perdi a minha carteira!

Tudo bem que sempre fui meio (muito) desligada, sabe aquele tipo de pessoa que está o tempo todo achando que perdeu alguma coisa? E numas dessas trocentas vezes em que verifico se a minha carteira está na bolsa: bingo! Acertei! Nada de carteira. O que significa basicamente nada de dinheiro, nada de vale transporte, nada de vale alimentação (um regime e caminhada pode me cair bem de repente!?) nada de documentos, nada de comprar meia entrada pro show em sampa, nada de continuar a saga de tirar carta (já me perguntei umas 500 vezes porque não fiz isso com 18 anos!).

Resultado: raiva, carona pra casa e B.O. E eles olham pra você com aquela cara de como você conseguiu fazer isso? Só faltou me perguntar onde eu perdi! Claro que eu não gritaria que se soubesse teria ido buscar de volta! Se não bastesse o atendimento eletrônico do banco querendo o número da agência, conta, assinatura eletrônica (nem sabia que eu tinha isso, na verdade acho que não tenho!), número do cartão, peso, idade, manequim... Que ódio! Foi quase como quando fui assaltada, tentei bloquear meu aparelho celular a eles queriam me enviar um torpedo!

É, não tenho mais dúvidas: de fato as coisas podem piorar... Mas agora ficarei infinitamente mais atenta com esses meus pensamentos malucos... porque se não acreditava na força deles... somados as minhas partes desatenta, distraída, estabanada... diria que quase não há saída!

Mas o que me chateou de verdade é que meu cachorro está doente de novo... Que venha a sexta-feira! Claro, a hora que eu conseguir dormir depois de tanta pilha! Mas, confesso que a vontade mesmo é de ficar escondida embaixo de um edredom macio e quente! Acordar? Ah, lá pra segunda-feira estaria bom!
Ah, e só pra constar a sexta já chegou. 00h58
Olha Kenia, compartilho agora exatamente da sensação de ser... fraca, pequena, humana e inflamável.

Se não dá pra ser completamente feliz que eu aprenda rápido a transformar perdas em ganhos!

Trilha sonora de fim de noite, ou seria começo de madrugada?

Lucky Man
The Verve

16 junho, 2010

Completamente feliz?



(Image by Elizabeth Kraft)

Completamente feliz
em todos os aspectos da sua vida
não, isso você nunca sentiu
se de amor está perdido
ainda assim falta um botão na camisa
e sendo tão bem correspondido
certamente deixou pra trás
algum caso mal resolvido
se acertou na profissão
mesmo assim ficou devendo um favor
a um amigo
e se tem confusão
em algum lugar do planeta
não se iluda
de alguma maneira você deve estar envolvido.

Martha Medeiros

14 junho, 2010

Me diga...

Acho que estou num momento meio "pensando família, famílias"... e de alguma maneira acho que essa música fala delicadamente dessa relação... confusa, intensa, definitivamente indefinida...

Me Diga
Nando Reis


"Eu pretendo apenas que você saiba que isso é o meu amor..."

13 junho, 2010

Mágico pra mim...



 (Meu avô Sidney e minha irmã Giovanna)

Tá aí mais uma coisa que eu nunca tinha pensado! 
Hoje (domingo = faxina em casa) estava arrumando alguns armários e encontrei um porta retrato quebrado na gaveta. Cortei o dedo no vidro e xinguei até não poder mais e o dedo para de doer. Voltei para pegar o tal porta retrato (com mais cuidado dessa vez) e nele havia algo que é mágico pra mim.
Uma foto do meu avô com a minha irmã no colo. A foto estava toda amassada, torta, recortada... E eu não tinha me dado conta do quão mágico podia ser reencontrar pessoas que de alguma maneira estarão pra sempre com a gente. Não pude conter as lágrimas, mas foram lágrimas de felicidade. Por lembrar de um avô e de uma época da vida que foi mágica pra mim. Acho que tudo que nos deixa essa sensação boa, de ter vivido momentos tão especiais é mágico pra mim... uma foto, uma lembrança, uma saudade, uma vontade...
Domingo mais gelado e cheio de surpresa esse?!
Tem uma frase num livro que meu avô me deu de presente que diz que "O bem é o conteúdo daquilo que os homens chamam de felicidade".
Como me faz bem lembrar de coisas mágicas!
Boa semana pra nós!

Selo Presente!




Acho que em algum ou alguns momentos devo ter dito que não lido bem com surpresas... E não lido mesmo! Algo haver com um certo lado pessimista sabe? Mas hoje tive uma surpresa que adorei! Não sei ao certo o que significa exatamente, mas ganhei um selo que adorei de uma amiga que talvez nem saiba o quanto tem inspirado essa minha vida maluca!
A Kenia, do Poesia Torta! Que só pra resgistrar tem entortado e desentortado meu dia a dia! Fiquei muito feliz de ser lembrada e de você gostar desse espaço! Sabe que ter um blog é algo que eu estou aprendendo ainda. Se reparar a maioria dos textos nesses espaço não são meus, são simplesmente textos que assim como os da Kenia inspiram o meu dia a dia. Mas posso dizer que tenho descoberto um mundo novo e espaços extremamente interessantes e pessoas muito talentosas! Que topam dividir esse talento, momentos, sentimentos, palavras, imagens... e o que quiserem dividir com pessoas como eu!
Obrigada pelo carinho Kenia!
Beijos carinhosos pra vc!
Ah... e o que é mágico pra mim? Hum... respondo em seguida!

09 junho, 2010

Preserve sua natureza



(Image by Tom Merton)

Salve a Mata Atlântica, não polua mares e rios, proteja o ar que a gente respira, não deixe que ipês e plátanos sejam arrancados para dar passagem a viadutos, não pise na grama, não compre nem venda animais silvestres, mas, sobretudo, preserve sua própria natureza.

Se você não nasceu para o terno e gravata, para o ar-condicionado e para reuniões, não seja um executivo, não ambicione ter tanto dinheiro, não pegue a trilha errada porque, lá adiante, vai dar preguiça de retornar e começar tudo de novo.

Se você não se imagina passando o resto da vida ao lado de uma única pessoa, se tem fome de liberdade, se gosta de estar em trânsito e experimentar toda forma de amor, e desconfia que sempre será assim, não importa a idade que tiver, então não case, não siga padrões de comportamento para os quais você suspeita não ter talento.

Se você sente que tem um amor enorme dentro de você e precisa dividir isso com alguém, se há em você generosidade suficiente para dedicar a maior parte do seu tempo a ensinar, brincar e criar uma pessoa, então não deixe de ter um filho, mesmo que não tenha com quem concebê-lo, mesmo que pense que já perdeu esse trem: perdeu nada, adote uma criança.

Se você não suporta mais ser governado, se não tem paciência para esperar as coisas acontecerem, se seu voto não tem adiantado grande coisa, se sua cabeça está cheia de idéias simples e praticáveis, se você tem o dom da oratória, muitos amigos, um ótimo caráter e acredita que pode mudar o que está aí, filie-se a um partido, apresente suas soluções.

Se você não é capaz de ficar com vários caras num único verão, se não faz questão de sair para a balada todas as noites, se sonha em encontrar um amor de verdade, alguém que a compreenda e seja um parceiro pra sempre, então não force outros relacionamentos, lute pelo seu ideal romântico, não se avexe de estar na contramão.

Não devaste nem polua você mesmo.
 
Martha Medeiros
 
Obs.: Tem muita gente idiota nesse planeta, tentando fazer a gente colocar as nossas poucas certezas e às vezes até as nossas dúvidas à prova! Quem sabe a gente consegue olhar mais pra galera bacana né? Que nos respeita como somos. Pra quem tanto faz se gostamos disso ou daquilo! Pra quem na verdade basta estarmos juntos, dando risada e nos divertindo!!! E é claro, olhar pra nós mesmos!

06 junho, 2010

Dia dos namorados?



(Image by Kohei Hara)

Estava pensando que essa data cegaria... nossa era chegaria, mas cegaria pode até cair bem no momento. Estava lendo uma crônica da Martha sobre esse data que chega e talvez nos cegue de fato... Ela nem chegou e estou eu aqui falando desse assunto! Realmente nos fizeram acreditar em tantas coisas que às vezes acabamos perdendo a capacidade de raciocinar, entender, refletir...

Estava conversando com uma amiga que não vejo há algum tempo e estávamos combinando de sair e tal, de repetente nos lembramos que o tal sábado dos nossos planos era justamente 12 de junho! Mudança de pauta: de saída entre amigas, para dia dos namorados! E lá vamos nós, filosofar sobre essa data tão... deixa pra lá. “Pôxa, escreva sobre isso!” (contei a ela que estava tentando ter um blog...), e ela disparou “Odeio amiga que convida você pra ir comprar presente pro bundão”, “Ou quando as pessoas te olham assim, ai coitada, vai chegar sua hora”, sem falar quando “querem te ‘oferecer’ um partidão de quase 30 que acabou de se separar!”.

Eita datinha que faz os solteiros pirarem o cabeção! Afinal esse é praticamente o dia em que é declarada a anormalidade de se estar sozinho!!! É praticamente um viva as metades das laranjas! As tampas das panelas! As panelas também! As caras metades! Três vezes saco!!!

Quando li a crônica da Martha (e concordei com cada caractere) fiquei tentando encontrar em qual momento “fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade.” E me dei conta que foram em vários momentos! Muitos momentos! Sou uma pessoa que adora cinema, filmes... Ainda mais as comédias estupidamente românticas... Resolvi começar por elas e descobri que nessa minha vida que quase nada tem de cinematográfica (talvez porque a vida seja um pouco mais real que isso), fiz um curso intensivo para acreditar em todas essas idiotices que pensamos (infelizmente) sobre amar, gostar, ter alguém... Em um passeio rápido pelos filmes que me recordo o que encontrei?

(Dirty Dancing)

(Grease)

(Uma Linda Mulher)

Cinderelas que nem precisaram perder sapatinhos de cristal, talvez aprenderem a dançar, outras que ganharam mais do que um sapatinho novo.

(10 Coisas que eu odeio em você)

(Amor Para Recordar)

Ainda que houvesse pelo menos 10 coisas pra se odiar, estava lá o amor perfeito se concretizando entre pessoas que não precisamos nem de 15 minutos de filme pra acreditar que nasceram de fato uma para a outra. Sem falar na transformação que o amor pode provocar... "Ela é demais" que o diga...

(Ela é Demais)

Até anjos entraram na jogada, sem falar em vampiros e lobisomens certo?

(Cidade dos Anjos)

E romances que ultrapassaram a própria vida... Como se a vida sem eles não tivesse valido a pena. Nem a Amelie escapou desse desfecho romântico...

(P.S.: Eu Te Amo)

(O Fabuloso Destino de Amélie Poulain)

Que maluquice!!!! Nascer um para o outro? Puta vida de cão que levamos às vezes, nos superamos, damos nossos jeitos, somos independentes, vivenciamos um trilhão de coisas diferentes em trocentos aspectos e querem nos fazer acreditar que nascemos para alguém e se isso não acontece somos anormais!? Pelo amor! Ou seria pelo não amor!?

Estamos tão condicionados que ao vermos casais pelo caminho, no ônibus segurando um ao outro para não caírem (como se pudessem de fato lutar contra a gravidade e o trânsito maluco), nos restaurantes, nas lanchonetes olhando com cara de bobos para as batatas fritas, na fila do cinema, tão envolvidos que talvez não saibam nem se estão na fila certa e o nome do filme? Ah que detalhe! (a parte de dentro do cinema vou pular ok?) logo nos sentimos estranhos. É como se uma luz vermelha acendesse na nossa testa perguntando “porque eles e não eu? O que eu tenho de errado”. Ficamos esperando por esse momento, em que nossa vida finalmente fará sentido por finalmente não estarmos mais sozinhos nessa aventura de viver!

Quando na verdade estamos vivendo a nossa vida, do nosso jeito! Não sou de forma alguma (talvez ultimamente um pouquinho) contra a idéia de se ter alguém. Muito pelo contrário. Sou a favor de termos o que acharmos que nos cabe, que nos interessa, que pode tornar as coisas mais aventureiras ou mais divertidas (digamos)! O que não significa que já não sejamos inteiramente completos, interessantes, cheios de coisas interessantes na bagagem e ainda por viver! E que a nossa vida não esteja fazendo sentido! Por que está! E cada minuto, cada experiência que vivenciamos vem compor a pessoa que somos, e que talvez em algum momento da vida, sem sapatinhos de cristal, no máximo uma melissa (que espero não perder) e nem aprender a dançar (pelo menos nessa vida) possa achar interessante dividir esses momentos com alguém! Continuar plena, inteira, completa, mas dividir alguma coisa (não tudo ok?), trocar idéias, aprender coisas novas e interessantes que essa outra pessoa também plena, inteira e completa queira dividir com a gente!

Ou não! Afinal deve haver um trilhão de maneiras de ser feliz, triste, bravo, legal, chato, ficar de saco cheio, de bom humor, sozinho, acompanhado, meio acompanhado, ou meio sozinho, de se fazer escolhas... De levar a vida! Quanta coisa bacana (e nem tão bacanas) estão por aí...! E que bom que a vida não é cinematográfica, e está longe de ser um plano-sequência, que bom que ela abre possibilidades para cortes, continuidades, intervalos, legendas, mudanças de figurino, efeitos especiais... Independente do enredo.

Só posso desejar que uma boa trilha sonora acompanhe essa aventura! E se o enredo não agradar... que busquemos outro!

Dia dos namorados



(Image by Charles Gullung)

Esta é a semana dos namorados, mas não vou falar sobre ursinhos de pelúcia nem sobre bombons. É o momento ideal pra falar de sacanagem.

Se dei a impressão de que o assunto será ménage à trois, sexo selvagem e práticas perversas, sinto muito desiludí-lo. Pretendo, sim, é falar das sacanagens que fizeram com a gente.

Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é racionado nem chega com hora marcada.

Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais rápido.

Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um", duas pessoas pensando igual, agindo igual, que isso era que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.

Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Ninguém nos disse que chinelos velhos também têm seu valor, já que não nos machucam, e que existe mais cabeças tortas do que pés.

Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que poderíamos tentar outras alternativas menos convencionais.

Sexo não é sacanagem. Sexo é uma coisa natural, simples – só é ruim quando feito sem vontade. Sacanagem é outra coisa. É nos condicionarem a um amor cheio de regras e princípios, sem ter o direito à leveza e ao prazer que nos proporcionam as coisas escolhidas por nós mesmos.

Martha Medeiros

05 junho, 2010

O jeito deles



(Imagem by Dylan Collard)


(Imagem by Dylan Collard)


(Imagem by Dylan Collard)

O que é que faz a gente se apaixonar por alguém? Mistério misterioso. Não é só porque ele é esportista, não é só porque ela é linda, pois há esportistas sem cérebro e lindas idem, e você, que tem um, não vai querer saber de descerebrados.

Mas também não basta ser inteligente, por mais que a inteligência esteja bem cotada no mercado. Tem que ser inteligente e... algo mais. O que é este algo mais?

Mistério decifrado: é o jeito.

A gente se apaixona pelo jeito da pessoa. Não é porque ele cita Camões, não é porque ela tem olhos azuis: é o jeito dele de dizer versos em voz alta como se ele mesmo os tivesse escrito pra nós; é o jeito dela de piscar demorado seus lindos olhos azuis, como se estivesse em câmera lenta.

O jeito de caminhar. O jeito de usar a camisa pra fora das calças. O jeito de passar a mão no cabelo. O jeito de suspirar no final das frases. O jeito de beijar. O jeito de sorrir. Vá tentar explicar isso.

Pelo meu primeiro namorado, me apaixonei porque ele tinha um jeito de estar nas festas parecendo que não estava, era como se só eu o estivesse enxergando.

O segundo namorado me fisgou porque tinha um jeito de morder palitos de fósforo que me deixava louca ok, pode rir. Ele era um cara sofisticado, e por isso mesmo eu vibrava quando baixava nele um caminhoneiro.

O terceiro namorado tinha um jeito de olhar que parecia que despia a gente: não as roupas da gente, mas a alma da gente. Logo vi que eu jamais conseguiria esconder algum segredo dele, era como se ele me conhecesse antes mesmo de eu nascer. Por precaução, resolvi casar com o sujeito e mantê-lo por perto.

E teve aqueles que não viraram namorados também por causa do jeito: do jeito vulgar de falar, do jeito de rir sempre alto demais e por coisas totalmente sem graça, do jeito rude de tratar os garçons, do jeito mauricinho de se vestir: nunca um desleixo, sempre engomado e perfumado, até na beira da praia. Nenhum defeito nisso. Pode até ser que eu tenha perdido os caras mais sensacionais do universo.

Mas o cara mais sensacional do universo e a mulher mais fantástica do planeta nunca irão conquistar você, a não ser que tenham um jeito de ser que você não consiga explicar.

Porque esses jeitos que nos encantam não se explicam mesmo.

Martha Medeiros

03 junho, 2010

As piores hipóteses...



(Image by Sot)

Estava lendo essa crônica da Martha que fala justamente sobre as falhas. As nossas falhas, e o quanto elas nos humanizam...

E não pude evitar pensar nas minhas! Ah caramba, são tantas! Já começa por aí! Mania de pensar sempre no pior lado das coisas e nas piores hipóteses!

Já se perguntou por que temos (olha eu querendo socializar a minha falha supondo que seja a sua também!) a tendência maluca de sempre pensar nas piores hipóteses. Sejam elas quais forem, sobre qual assunto for?!

Previsão do tempo, amor, amigos, viagens, faculdade, trabalho! É o tempo que pode piorar mesmo quando o sol está rachando lá fora (mas, vamos combinar que às vezes acertamos mais que a previsão do tempo?!), é aquele trabalho que a gente ralou absurdo pra fazer e tem certeza que não ficou bom, aquele lugar que a gente deixa de ir porque tem certeza que não estará legal, aquele cara super interessante que a gente tem certeza que não vai dar em nada, aquela viagem que embora pareça super interessante... Ah tanta coisa pode dar errado!

Coisa de maluco isso. Talvez não. Prefiro pensar que talvez seja algo “às vezes” inevitável. Bom, no meu caso tenho que admitir que mesmo lutando contra a minha essência sagitariana, controladora, com mania de querer adivinhar desde a previsão do tempo até o que as pessoas nunca sonharam em dizer, a parte controladora tem ganhado. Vários pontos a zero por enquanto. Fico me perguntando em que momento aprendemos que ser assim seria mais seguro?! Ah, claro, quanto menor a imaginação, menor o tombo! Já era!

Digamos que tenho outras falhas... (e como tenho!) Ansiedade, pressa, insegurança, imaginação fértil demais (ok, essa pode ser uma qualidade às vezes, certo?), medo de coisas novas, falo demais (principalmente quando fico nervosa) e sempre fico pensando que se Deus (ou alguém, sei-lá) nos deu o pensamento, nem tudo precisaria ser dito, mas... Acho que talvez o que mais me “pegue” seja essa mania de viver entre a guerra eterna do “tudo sempre pode piorar” versus “do chão não passa”. Não que a metade do meu copo esteja sempre vazia... Claro que às vezes bem aproveito a metade cheia de sorvete, milk shake de ovomaltine, fanta uva, enfim!

Lição de feriado sobre as falhas: além de nos humanizar é o que nos identifica, particulariza, diferencia! Agora se fascina...??? Aí deixo pra pensarmos num momento menos “tudo pode piorar”!

Até porque se todo carnaval tem seu fim... Pra que se preocupar?

Los Hermanos
Composição: Marcelo Camelo

Todo dia um ninguém josé acorda já deitado
Todo dia ainda de pé o zé dorme acordado
Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado
De que o dia insiste em nascer
Mas o dia insiste em nascer
Pra ver deitar o novo

Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
Toda Bossa é nova e você não liga se é usada
Todo o carnaval tem seu fim
Todo o carnaval tem seu fim
E é o fim, e é o fim

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz

Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco
Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco
Toda escolha é feita por quem acorda já deitado

Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado
E pinta o estandarte de azul
E põe suas estrelas no azul
Pra que mudar?

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz

Falhas



(Golden Gate, São Francisco)

Uma das coisas que fascina na cidade de San Francisco é ela estar localizada sobre a falha de San Andreas, que é um desnível no terreno da região que provoca pequenos abalos sísmicos de vez em quando, e grandes terremotos de tempos em tempos.

Você está deslumbrado, caminhando pela cidade, apreciando a arquitetura vitoriana, a baía, a famosa Golden Gate e, de uma hora para outra, pode perder o chão. Ver tudo sair do lugar, ficar tontinho, tontinho. É pouco provável que vá acontecer justo quando você estiver lá, mas existe a possibilidade.

Assim são também as pessoas interessantes: têm falhas. Pessoas perfeitas são como Viena, uma cidade quase perfeita. Linda, sem fraturas geológicas, onde tudo funciona e você fica com tédio.

Pessoas, como cidades, não precisam ser excessivamente bonitas. É fundamental que tenham sinais de expressão no rosto, um nariz com personalidade, um vinco na testa que as caracterize.

Pessoas, como cidades, precisam ser limpas, mas é importante suar na hora do cansaço. Também o é ter um cheiro próprio, uma camiseta velha para dormir, um jeans quase transparente de tanto que foi usado, um batom que escapou dos lábios depois de um beijo, um rímel que borrou um pouquinho quando você chorou. Pessoas, como cidades, têm que funcionar, mas não podem ser previsíveis.

De vez em quando, sem abusar muito da licença, devem ser insensatas, ligeiramente passionais. Devem demonstrar um certo desatino, ir contra alguns prognósticos, cometer erros de julgamento e pedir perdão depois.

Aliás, pedir perdão sempre, Pessoas, como cidades, devem dar vontade de visitar, devem satisfazer nossa necessidade de viver momentos sublimes, devem ser calorosas, ser generosas e abrir suas portas. Devem nos fazer querer voltar, porém não devem nos deixar 100% seguros, nunca. Uma pequena dose de apreensão e cuidado devem provocar. Nunca devem deixar os outros esquecerem que pessoas, assim como cidades, têm rachaduras internas.

Portanto, podem surpreender.

Falhas. Agradeça as suas, que é o que humaniza você, e nos fascina.
 
Martha Medeiros