27 junho, 2010

Tempo? A fórceps...



(Image by Laura Rounds)

Final do ano irei viajar com algumas amigas! Estava pensando nisso ontem, afinal depois de trabalhar uma tarde toda de um sábado mais que ensolarado, nada melhor que pensar em possibilidades de fugir. E junto com isso comecei a pensar nas coisas gostosas que quero fazer, voltar a fazer, tentar fazer! Essa viagem é uma delas!

Lembrei do meu curso de roteiro para documentários que está meio parado, esperando formar turma. E aí percebi que resolvi atacar de cinema, saídas com as amigas pra dar risada, show do Zeca Baleiro (ainda que na praça de alimentação do Shopping Dom Pedro), Nando Reis e Zeca de novo em São Paulo (Núbia, precisamos comprar logo os ingressos, e Bia esse não tem desculpa ok?!), dormir (que delícia desmaiar com um edredom fofinho), comer coisas gostosas!

Essa semana aconteceu uma coisa completamente idiota, que pensei que só acontecia na TV sabe, trombei uma porta de vidro, caí sentada, quase quebrei o nariz, o dente... Fiquei pensando depois enquanto estava indo na farmácia, no dentista... Afinal se a vida já não está fácil com o rosto no lugar, imagina sem nariz e dente? Enfim, que esse acidente idiota é culpa parte da minha desatenção com o planeta e parte da minha correria de cada dia sabe?!

Continuei pensando que no meio de trabalho, reuniões, respostas, ônibus lotado, frio, calor, fome, preguiça, sono, aulas, seminários, livros, mestrado... Seria bem interessante encontrar/ providenciar/ plantar/ improvisar (seja lá o verbo que for) tempo para as coisas boas também! Afinal se trombadas em portas conseguem me fazer encontrar tempo, coisas boas devem fazer mais!

E tudo isso me lembrou uma crônica da Martha que gosto muito, que se chama "A fórceps"...

Que consigamos driblar o tempo!


(Image by FPG)

A Fórceps

Recebo o e-mail de uma amiga contando que, mesmo não tendo tempo para mais nada,voltou para as aulas de dança,que está fazendo à noite. Diz ela: "Tem coisas que devemos abrir espaço a fórceps, ou corremos o risco de serem extinguidas de nossas vidas".

Fórceps todos sabem o que é. Um instrumento que, em obstetrícia, serve para extrair o bebê do útero, em caso de pouca dilatação do ventre. Falando assim, parece uma coisa agressiva, mas não é. É um help. Se a natureza não está ajudando, o fórceps vai lá e puxa o bebê pra vida. Pois é assim que estamos levando os dias: a fórceps.

Se existe uma coisa que não se dilata espontaneamente é o tempo, contrário, está cada vez mais apertado, então a gente tem que tratar de extrair tudo o que a gente quer da vida na marra mesmo. Forçando um pouco. E lá vamos nós pra noite, mesmo com medo da própria sombra.

Vamos jantar, vamos ao cinema, vamos ao bar, vamos à casa de amigos,vamos cantarolando dentro do carro e com os vidros bem fechados, vamos despistando as neuras e tentando estacionar bem longe das estatísticas estampadas nas páginas policiais E a gente promete nunca mais telefonar para quem nos faz sofrer mas acaba telefonando, e ele atende, e implica, e a gente some, eele chama, e a gente volta, e briga, e ama, e sofre, e ama, e ama, e ama, desama, e termina, e quando parece que cansamos, que não há mais espaço para um novo amor, outro aparece, outro parto, começa tudo de novo, aquele ata-e-desata, o coração da gente sendo puxado pra fora.

E a gente faz mágica: vive 32 horas por dia, oito dias por semana, 14 meses por ano - e com um salário microscópico. Fazemos a volta ao mundo com meio tanque de gasolina, dormimos seis horas por noite, sonhamos acordados o tempo inteiro.Bebemos um drinque com as amigas e voltamos para casa sóbrias, entramos no quarto das crianças sem acordá-las, um pássaro não seria mais leve.

Lemos todos os livros do mundo nos intervalos da novela, paramos dois segundos para olhar o pôr-do-sol pela janela, telefonamos para nossa mãe ao mesmo tempo em que respondemos o e-mail de um cliente, e se alguém sorri para nós, a gente se aproxima, se arrisca e renasce nestas chances de vida.

Porque senão é da casa pro trabalho e do trabalho pra casa, deixando o tempo agir sozinho, dilatações espontâneas. E, como elas não acontecem, permanecemos paralisados na vidinha mesma de sempre, lamentando o fim das nossas aulas de dança.

Martha Medeiros

2 comentários:

  1. O tempo é o apelido que damos para as nossas desculpas desbotadas. Teremos tempo para tudo que elegermos como essencial.
    Desde que tenhamos tempo para a eleição rsrs

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  2. Pior que é... desculpas e mais desculpas! Espero conseguir eleger o 'meu' essencial! Apesar do e com tempo! Acho que estamos todos no caminho...

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Obrigado por fazer parte desse diálogo comigo mesma!