(Image by Jena Ardell)
Li uma entrevista com o escritor e jornalista português Vasco Valente, onde ele afirma que passamos a vida tentando conter a tendência para a desordem. Se ficássemos passivos diante da vida, sem mexer um dedo para nada, um belo dia acordaríamos falidos, com a energia elétrica cortada e um monte de gente magoada a nossa volta. Conclui ele: "O que cada um de nós tenta fazer, cada um à sua maneira, é tentar conter o descalabro".
A visão dele é meio apocalíptica - desordem, descalabro! -, mas, relativizando o exagero, é bem assim mesmo: passamos a vida tentando organizar o caos. Trabalhamos para ter dinheiro, respeitamos as leis, usamos o telefone para manter laços com a família e procuramos amar uma única pessoa para sossegar as aflições do coração, sempre tão inquieto. E mesmo fazendo tudo certo, e mesmo correndo contra o relógio e contribuindo para o bem-estar geral, às vezes dá tudo errado. É quando surge alguém não sei de onde, percebe o nosso stress e dá aquele conselho-curinga que serve para todas as ocasiões: deixa rolar.
Sempre que eu deixei rolar, não aconteceu nada. Nada de positivo ou negativo. Nada. De vez em quando eu até deixo rolar, mas só para obter um breve momento de descanso em que parece que saí de férias da vida. É uma auto-hipnose: estou dormindo, não estou aqui, não estou vendo coisa alguma. Quando a desordem e o descalabro voltam a ameaçar, eu conto um, dois, três, estalo os dedos e a engranagem volta a funcionar de novo.
Deixar rolar é um conselho que não consigo seguir por mais de uma tarde. Tenho esta mania estúpida de querer participar de tudo o que me acontece. Se eu me dei bem, a responsabilidade é minha, e se me dei mal, é minha também. Não entrego nada a Deus. Não uso nem serviço de motoboy. Eu mesma cobro, eu mesma pago. Delego pouco, e apenas pra gente em quem confio às cegas. Nunca pra este tal de destino, que não conheço.
Só entro em estado de passividade quando não depende mais de mim. E só deixo rolar aquilo que não me interessa mais. O problema é que tudo me interessa.
Martha Medeiros
Obs.: Como alguém pode descrever a gente com tanta perfeição?
Nas poucas ocasiões em que expresso o meu cansaço alguns dias diante da rotina tão caótica e o destino tão misterioso, aparece alguma alma que me dá esse mesmo conselho. Mas eu também não consigo e acho melhor que seja assim.
ResponderExcluirAdoro a Martha. =)
Michelle, sorte a minha você ter me encontrado de alguma maneira, porque eu gosto de gente inteligente. Seu blog é uma graça, já está linkado lá no Poesia Torta, já estou seguindo e voltarei pra convesarmos mais aqui na sua página de comentários - prepare-se, porque eu não paro de falar nunca.
Beijo carinhoso com doçura. =*
Olá Kenia!
ResponderExcluirMundo maluco esse! Nunca imaginei ter um blog! E aqui estou eu! Na verdade nem tenho muitas coisas bonitas e tal pra escrever, mas é engraçado como às vezes um texto ainda que de outra pessoa consegue expressar exatamente como nos sentimos! Fico muito contente de manter esse diálogo com você! E eu é que fico muito feliz de por acaso ter encontrado um certo blog de poesias tortas! Saiba que elas me inspiram sempre!!!
Beijos! :)
Sem palavras para descrever Martha Medeiros. Amo tudo que ela escreve porque expressa o que sinto, na maioria das vezez.
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